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Ep 03 - Status #147 - Setembro 2023

Com a autorização da revista internacional de improviso Status, Luana Proença e Davi Salazar traduzem e gravam em português o conteúdo mensal da revista. 

SIM, existe uma revista mensal sobre Impro que questiona e valoriza o que fazemos, E seu conteúdo é disponibilizado em português AQUI por escrito, e em áudio em nosso PODCAST no Spotify: Revista Status - PT.

A revista STATUS é publicada mensalmente e virtualmente em espanhol, inglês, italiano e francês. Informações e assinaturas: https://www.statusrevista.com/




A tradução da revista é feita em linguagem de gênero neutra, sem a identificação de gênero do sujeito das orações quando generalizado.


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OPINIÃO
EQUILIBRAR O DESEQUILIBRADO

por Feña Ortalli


As greves do SAG-AFTRA (pessoas atrizes) e do WGA (pessoas escritoras) nos EUA demonstraram o poder que os sindicatos têm. Além disso, elas também receberam um enorme apoio de pessoas de todo o mundo.


Milhares de grupos de pessoas trabalhadoras estão envolvidas nessas greves e milhões (até bilhões) de dólares estão em jogo. Mas, vamos admitir, só sabemos sobre essas greves porque pessoas famosas estão envolvidas. Você sabe quantas greves estão ocorrendo neste momento em seu país? Você também mostra seu apoio a elas nas mídias sociais? Você já participou de uma greve?


Os sindicatos são a melhor forma de organização que as pessoas trabalhadoras têm para equilibrar a dinâmica de poder (muito) desequilibrada da economia capitalista.


Ultimamente, tenho pensado em nossa própria dinâmica de poder no mundo da impro. Como podemos lidar com ela quando somos uma comunidade tão próxima e pequena? Como isso funciona quando a maioria das pessoas envolvidas é amadora? Como podemos pedir o que é justo quando temos que negociar com nossas amizades?


É claro que seria muito mais fácil negociar com uma grande empresa sem rosto como a Coca-Cola (ou o Second City¹), mas não é o caso. Ser uma pessoa profissional e empática quando se trata de negociar nossos contratos, pagamentos e condições de trabalho com nossas amizades pode ser complicado.


Se você é docente, você coloca um preço em seu trabalho ou ele é estabelecido pela escola? Você sabe quanto as outras pessoas docentes recebem pelo mesmo trabalho? Você já conversou sobre isso com elas? As mesmas perguntas se aplicam se você for artista.


Falem sobre isso. Reúnam-se. Compartilhem impressões. E conversem com quem vos emprega. Deixe que saibam como vocês se sentem e o que pensam.


Sei que é difícil abordar esses assuntos quando a negociação ocorre com alguém que você conhece, gosta ou até mesmo é sua amizade. Mas garanto a você que isso também é uma vantagem. Use essa proximidade para chegar a um melhor entendimento mútuo.


E lembre-se: se você não faz parte dos ganhos, não deve fazer parte das perdas.


PS: Os festivais têm muito trabalho a fazer com relação a esse assunto. Um “Sindicato Internacional de Pessoas Improvisadoras Itinerantes” ajudaria? Tenho quase certeza. O que você acha?


¹Atualmente, a AICE (Association of International Comedy Educators) está lutando para conseguir contratos decentes para as pessoas docentes, facilitadoras e diretoras musicais do The Second City (EUA).


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BIO
SOPHIE TREADWELL

por Feña Ortalli


Sophie Treadwell (3 de outubro de 1885 - 20 de fevereiro de 1970) foi uma dramaturga e jornalista mais conhecida por sua peça “Machinal”, frequentemente incluída em antologias de teatro como exemplo de uma peça expressionista ou modernista.


Quando Treadwell era pequena, seu pai a abandonou e à sua mãe e voltou para sua terra natal, o México. Pelo resto de sua vida, Treadwell lidaria com as implicações emocionais e financeiras dessa deserção.


Treadwell recebeu o título de Bacharel em Letras em francês pela Universidade da Califórnia em Berkeley, onde estudou de 1902 a 1906. Foi também durante esse período que ela começou a escrever; os primeiros rascunhos de peças mais curtas, canções e pequenas histórias de ficção.


Durante a faculdade, Treadwell teve seus primeiros contatos com doenças mentais, uma variedade de condições nervosas que a atormentariam e levariam a várias internações prolongadas ao longo de sua vida.


Em 1910, Treadwell casou-se com um escritor de esportes do San Francisco Chronicle e, em 1915, mudou-se para Nova York. Foi nessa época e nesse lugar que Treadwell conheceu as comunidades com as quais se associaria pelo resto de sua vida: o Provincetown Theater Players, a Lucy Stone League e o grupo modernista de jovens artistas que incluía Marcel Duchamp.


Após várias tentativas de obter algum reconhecimento, Treadwell escreveu “Machinal”, uma peça baseada na condenação e execução de Ruth Snyder pelo assassinato de seu marido.


A peça estreou na Broadway, no Plymouth Theatre, em 7 de setembro de 1928, e foi encerrada em 24 de novembro de 1928, após 91 apresentações, e é considerada um dos pontos altos do teatro expressionista nos palcos estadunidenses.


Como a maioria das peças expressionistas, “Machinal” dramatiza o despertar espiritual e os sofrimentos de sua protagonista usando uma estrutura dramática episódica conhecida como Stationendramen. A história é contada em 9 cenas, em 6 cenários diferentes, por 29 personagens que não são identificadas por nomes, mas por sua posição ou ocupação. (Uma jovem mulher, uma mãe, uma pessoa que é juíza).


Treadwell se concentra na personagem principal (A Young Woman), fazendo de sua protagonista feminina uma personagem genuinamente universal, uma pessoa simples, frustrada em todos os relacionamentos mesmo sem ser sua culpa.


Sophie Treadwell escreveu pelo menos 39 peças de teatro, vários romances e contos e inúmeros artigos de jornalismo que refletem o mesmo compromisso com a investigação política e os direitos humanos.



FONTES:

https://en.wikipedia.org/wiki/Sophie_Treadwell

https://stageagent.com/writers/6017/sophie-treadwell

https://www.encyclopedia.com/arts/news-wires-white-papers-and-books/treadwell-sophie

https://journeys.dartmouth.edu/sophietreadwellthea17/



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ENTREVISTA
ANNE RAB

por Feña Ortalli


"Minha curiosidade encontra seu lugar no palco da improv"



Primeira pergunta... e começamos com uma difícil: Quem é Anne Rab?


É isso mesmo! Ufa, uma pergunta tão difícil logo no início. Sou atriz, diretora, educadora de teatro, palestrante e uma jogadora de improv apaixonada. Uma pessoa com quem você pode roubar cavalos, como se diz em alemão. Gosto de experimentar coisas, gosto de me movimentar, me deixo inspirar e adoro trabalhar com muitas pessoas juntas. Minha curiosidade encontra seu lugar no palco da improv, e uma boa pantomima me entusiasma rapidamente.



"Uma pessoa com quem você pode roubar cavalos"... Adoro isso. O que significa?


Isso significa que você pode fazer algumas coisas malucas comigo... como roubar cavalos em conjunto!



Legal... então, com quem você roubaria cavalos?


Isso funciona melhor com as pessoas que são minhas colegas de improv. Quando podemos experimentar coisas no palco ou durante o treinamento, confiar umas nas outras e fazer todo tipo de bobagem juntas.


Como quando estou no palco com minhas parcerias em duplas: Ursula Anna Baumgartner ou Jim Libby. Sempre sei que vamos nos divertir muito em conjunto.



Vamos continuar analisando a primeira resposta. Você também se definiu como alguém que gosta de experimentar coisas novas. Qual foi a última coisa que você experimentou?


Experimentei um Achocolatado Vegano... não era muito bom!


Estou experimentando algo novo em outubro. Faremos um espetáculo improvisado, totalmente sem palavras, com minha dupla Bemme&Melange com a Ursula, e estou muito animada com isso. “Sound Off vai estrear no Würzburger Festival. Aaaahhhhh!



Fiz essa pergunta ao nosso entrevistado anterior, Dani Orrantia, e quero ouvir sua opinião. Que vantagens você encontra em deixar as palavras de lado ao improvisar?


A linguagem é a fonte de mal-entendidos, como já se pode ler em "O Pequeno Príncipe", e acho que há algo aí. Quando você se deixa guiar por emoções e impulsos físicos no palco, você atinge uma intimidade totalmente nova. É preciso olhar para a pessoa e ela olhar para você, observar, estar totalmente presente com a pessoa parceira. Isso pode ser perdido rapidamente com palavras, pois posso lhe dizer algo sem olhar para você e posso explicar tudo em detalhes. Sem palavras, o espaço para a descoberta é muito maior, e acho isso simplesmente fascinante.



Sem palavras, a conexão e a confiança com sua(s) parceria(s) no palco devem ser enormes... mas isso também dá mais espaço para surpresas.


Sim, você se encontrará em um lugar onde nunca teria estado apenas usando palavras. Todo mundo deveria tentar isso!



Se não usarmos palavras, a fisicalidade e a expressividade precisam estar muito presentes. Como você treinou esses elementos?


Há cerca de 15 anos, comecei a trabalhar com um grupo de palhaçaria (o Knalltheater) e treinamos muito com pantomima e trabalho físico. Começamos a apresentar histórias para o público sem saber onde a jornada nos levaria. Dois anos depois, alguém nos disse que estávamos fazendo teatro de improv. Então, minha jornada na improv começou imediatamente, sem palavras. Quando vi uma apresentação do espetáculo “Speechless em um festival, soube que era isso que eu queria fazer na improv. Desde então, tenho tentado participar de todos os workshops e treinamentos relacionados a esse tópico. Em seguida, vou tentar o Contato Improvisação. Isso vai ser incrivelmente empolgante. Já estou ansiosa para criar conexões com o mundo da improv por meio disso.



Por meio da improvisação não verbal, do contato e até mesmo do soundpainting, a impro tende a imagens mais poéticas, enquanto a impro usual se torna muito prolixa e até mesmo muito literal. Por que você acha que isso acontece?


Talvez porque as pessoas não confiem mais em si mesmas. Acredito que a incerteza pode estar bem escondida atrás das palavras, atrasando decisões ou afirmando a visão de alguém. Quando você confia apenas no seu corpo, nunca tem certeza de que a pessoa que é sua parceira entendeu o que você quis dizer ou o que você quer transmitir. E, é claro, depender apenas de seu corpo envolve mais riscos. Também observo isso com frequência nas pessoas que são minhas alunas. Elas preferem jogar pelo seguro e hesitam em mergulhar no completamente desconhecido.



Você vive entre Leipzig e Viena, com projetos em ambas as cidades... como você faz isso?


Principalmente de trem! Você se acostuma com as longas viagens de trem e as usa como tempo de trabalho de escritório. No final, são apenas 7 horas. Acrescente uma série curta a isso e o tempo passa voando. Atualmente, estou tentando visitar Leipzig pelo menos a cada duas semanas. Essa cidade não deixa você na mão. É linda demais, cheia de vida, e ainda há muita diversão para se ter com a cena teatral.



Especialmente durante o verão, quando você tem muito trabalho lá. Pode nos contar mais sobre o teatro de verão em Leipzig?


Devo admitir que o Moritzbastei é um dos mais belos palcos de teatro de verão em que tive o privilégio de me apresentar. Essas estruturas antigas e paredes cobertas de hera são simplesmente impressionantes. E fica bem no centro da cidade, o que é bastante raro em um teatro de verão. A cena teatral de Leipzig é bastante diversificada nesse aspecto; há vários outros lugares onde são realizadas diversas apresentações. No ano passado, levei "O Pequeno Príncipe" a um pequeno palco de verão, e foi muito divertido. Especialmente porque foi a primeira vez que pude trabalhar com minha irmã mais nova. Portanto, seja Shakespeare, teatro infantil ou até mesmo uma peça com tema de emancipação, há algo para toda a gente na cena teatral de verão de Leipzig.



Você já dirigiu várias peças com roteiro... Quais são as principais diferenças entre dirigir um teatro com roteiro e um teatro improvisado?


Tenho que admitir que nunca dirigi um espetáculo improvisado antes. Mas imagino que seja extremamente diferente. Em meu trabalho de direção, fazemos muitos experimentos em conjunto e tomamos decisões bem tarde no processo. E então, você ainda pode ajustar as coisas. Também tenho a tendência de pensar muito em termos de imagens visuais que tento dar vida no palco. Esse luxo pode não estar disponível em um espetáculo de improv. Você tem que estar extremamente no momento e controlar o que está lá. Não se pode dizer depois: "Ah, a primeira tentativa foi melhor". De qualquer forma, acho a ideia intrigante e com certeza vou tentar.



Quando esta entrevista for publicada, o Momenta Festival estará quase começando... o que você espera dessa edição?


Diversão! E alguns novos desafios! Estou superanimada para o workshop da Delia (Riciu) "Stage Fighting" (“Luta Cênica”) e estou animada para ver algumas velhas amizades! Celine Camera está vindo e eu a conheci há cinco anos e não nos vemos desde então. Também haverá muitos formatos com abordagens pessoais das próprias pessoas jogadoras. Sempre acho isso desafiador.



Quais são as melhores e as piores partes da organização de um festival?


Ufa... o trabalho de escritório é provavelmente o mais estressante. Solicitar subsídios, organizar espaços para workshops, manter sistemas de ingressos, organizar viagens... essas coisas podem ser realmente um incômodo. Para mim, o festival só se torna realmente agradável quando você pega a primeira pessoa convidada na estação de trem. Quando você passa dias em conjunto em salas de ensaio e cervejarias discutindo improv e se soltando completamente no palco como uma equipe. Nesse momento, todo o estresse dos meses anteriores é esquecido, e você mal pode esperar para mergulhar nessa maratona organizacional novamente no próximo ano.



Digamos que você tenha recursos ilimitados (econômicos, humanos, geográficos, etc.)... como seria o seu espetáculo ideal?


Talvez não seja o meu espetáculo ideal, mas se não houvesse limites, eu adoraria experimentar uma apresentação em um local realmente grandioso. Como o Burgtheater em Viena, com todas as suas complexidades técnicas. Um espetáculo de improv em que os cenários mudam em segundos em telas enormes, elementos de palco giratórios e com altura ajustável, máquinas de neblina, neve, chuvas e desertos que aparecem no palco. Um cavalo de verdade surge dos bastidores, uma pessoa jogadora flutua em uma corda acima do público, coisas assim. Imagine todas as possibilidades!



Que projetos você tem para a próxima temporada, além do espetáculo que mencionou anteriormente com a Ursula?


Jim e eu estamos trabalhando em um novo formato com nossa dupla, The Messengers, em que ambos podemos nos entregar à nossa paixão por histórias de aventura e fantasia. Também estou muito empolgada com o fato de estarmos assumindo uma produção com roteiro que não terá palavras. Meu colega ator e eu nos inspiraremos em filmes mudos e, com a colaboração de duas pessoas musicistas ao vivo e a direção de Jim, construiremos uma história. Participei de um projeto semelhante em Leipzig há alguns anos, e foi fantástico. Tínhamos um roteiro, mas no palco, nenhuma pessoa falava; em vez disso, tínhamos um piano e um violoncelo que "falavam" por nós.



Última pergunta, Anne... quem você acha que deveríamos entrevistar?


Mmm... você já entrevistou tantas pessoas incríveis. Seria muito interessante conversar com Ursula; ela fundou recentemente um grupo de improv que improvisa um musical completo todo mês, e é fantástico! E, como você sabe, é sempre muito divertido estar com Raschid Sidgi. Eu jogo com ele no Theaterturbine em Leipzig há mais de dez anos, e é sempre ótimo estar no palco com ele ou apenas conversar com ele sobre improv e teatro. Ele é simplesmente um cara incrível!



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GENÉTICAS
H.U.M.A.N.S.
por Guru Khalsa Seção coordenada por Luana Proença (luanamproenca@gmail.com)

Algumas das práticas pedagógicas comuns na América Latina que sempre me inspiraram em Teatro são as chamadas Desmontagens Cênicas ou os estudos da Genética Teatral. Uma abertura dos processos de criações onde eles são “desfeitos” parte a parte para que possamos ver como se deu a junção daquela obra. Assim, todos os meses eu vou dar espaço para grupos e artistas abrirem suas criações para uma partilha inspiradora. Se você quiser partilhar sobre o seu processo, entre em contato comigo, Luana Proença.


Assisti a esse espetáculo e conheci seu elenco no Festival IMPRO Amsterdam 2023. No final, fui até o Guru Khalsa e disse: "Por favor, por favor, inscrevam-se no Festival de Impro Irreverente (Lisboa), ainda faltam dois dias para o encerramento das inscrições". O grupo tinha acabado de fazer sua estreia, então teve que correr para ter o vídeo e as fotos prontas para o prazo final. O grupo conseguiu e nós nos divertimos muito em Lisboa com o “H.U.M.A.N.S.” Tão simples, tão divertido, com um elenco incrível de artistas e pessoas. E agora o Guru está compartilhando conosco esse processo de espetáculo de outro planeta!


***


H.U.M.A.N.S.


Escrevo isso depois da terceira apresentação da “H.U.M.A.N.S.”, às 2h46 da manhã. Escrevo isso depois que sete pessoas diferentes elogiaram o formato desse espetáculo. Não a performance, não a execução. O formato. Escrevo isso depois de 2 gins com tônica, mas isso não é realmente relevante. Escrevo isso extremamente cansado.

Aqui está outra coisa que escrevi quando estava extremamente cansado (em 8 de outubro de 2022):


“H.U.M.A.N.S.” é uma espécie predominante no planeta Terra.

Nesse espetáculo, seres do planeta "Observer" recontam e reencenam momentos da história humana para seu próprio entretenimento. Os detalhes de alguns eventos históricos, escolhidos pelo público, são preenchidos com base em sua melhor compreensão de como os seres humanos funcionam.


O texto acima levou 90 segundos para ser escrito. Era para a inscrição na categoria "New Format Show" (“Novo Formato de Espetáculo”) no IMPRO Amsterdam, e o impostor que havia em mim acreditava que eu teria de passar mais alguns anos antes de estar pronto para o "grande palco". Não estou dizendo isso para sugerir que a criação de formatos é fácil. Os esforços posteriores me mostraram a sorte que tive ao escolher essas palavras. Essa apresentação foi como comprar um bilhete de loteria sem expectativas. Eu só queria brincar de improv com algumas das pessoas que são minhas melhores amigas. Assim como neste artigo, eu não sabia como a maioria das frases terminaria quando comecei a digitar "Thames"¹ .


Descoberta #1: para nós, foi mais fácil começar "improvisando" uma descrição do formato e, em seguida, usar isso como inspiração para fazer um brainstorming do formato, em vez de criar o formato perfeito.


Bem, o que eu havia esquecido de levar em conta era que as pessoas que eram minhas colegas improvisadoras estavam mais do que prontas para o grande palco. Elas viviam e respiravam o grande palco. O grande palco era o sobrenome delas. O grande palco precisava de mais alguns anos para estar pronto para elas.


Vamos conhecê-las e conhecer seus pontos fortes (conforme minha percepção) para contextualizar.


  • Nirvi Grande Palco Maru - Mestre em pesquisa em ciência da comunicação e uma das improvisadores mais inteligentes que existe, que consegue ler pessoas e situações perfeitamente dentro e fora do palco.

  • Kiki Grande Palco Hohnen - Mestre em Psicologia Clínica, professora de Comunicação e Ciências Comportamentais, extremamente empática e improvisadora há mais de duas décadas!

  • Kevin Grande Palco Miller - Designer instrucional (explicando coisas complexas para nós, pessoas simples) e improvisador há mais de duas décadas, que criou formatos incríveis como o “History Under The Influence” e “Coach Rookard”, e ensina Improv.

  • Guru Grande Palco Khalsa - Analista de marketing; cílios grandes; socialmente desajeitado, sempre tentando ler melhor as pessoas para não ficar desajeitado. Autor deste artigo.


Houve alguns ajustes no formato desde sua criação. O mais relevante é que ampliamos o elenco para incluir algumas de nossas pessoas e improvisadoras favoritas: 


  • Jenny Grande Palco Hasenack - Mestre em química e "um pouco de comunicação científica"; possivelmente uma alienígena de verdade de um planeta de grandes improvisadoras.

  • Ashley Grande Palco Moore – Desenvolvedor Sêni... - Isso não é o LinkedIn, apenas confie em nós que ele é perfeito para o formato. Improvisador equivalente a jeans de alta qualidade para todas as estações.


Enquanto a descrição do espetáculo foi escrita em 90 segundos, o processo subconsciente foi imaginar o que cada pessoa de nós poderia fazer no palco. Nirvi adora encontrar a peculiaridade no normal. Kiki é especialista em ler pessoas e situações. Kevin explica as coisas de forma muito convincente. E as personagens desajeitadas exigem que eu faça muito pouca interpretação de personagem.


Retrospectivamente, acredito que eu também estava pensando nos formatos “History Under The Influence”/“Coach Rookard” do Kevin, em que ele está bêbado/fora de si explicando situações enquanto as outra pessoas jogadoras encenam seus caprichos. O “H.U.M.A.N.S.” dá a todas as pessoas do elenco a chance de fazer isso.


Descoberta #2: Conhecer as pessoas jogadoras e fazer com que o formato atue de acordo com seus pontos fortes pode funcionar melhor do que um estilo de formato único para todo mundo. 


O formato foi selecionado para estrear no IMPRO Amsterdam em 26 de fevereiro de 2023!


Quem estiver a ler com atenção perceberá que a linguagem até agora tem sido muito voltada para o "eu", e isso se deve ao fato de as pessoas da edição desta revista terem procurado o narcisista do grupo que encontrou uma maneira de expandir 90 segundos de seu trabalho para parecer inteligente. E olha que eu nem sou o diretor do formato! Em nosso primeiro ensaio, depois de compartilhar o que imaginei ao digitar, ofereci a função de direção. (Tanto por motivos de expansão da capacidade mental quanto por não querer usar os chapéus de criação, produção, atuação e direção ao mesmo tempo). Felizmente, Kevin se prontificou.


Alguns momentos que definiram o formato, conforme o que surgiu durante os ensaios:


  1. Afastando-se da história. Logo no início, percebemos que algumas das pessoas do nosso elenco sabem muito pouco sobre a história do mundo ocidental e é improvável que o público nos pergunte sobre a dinastia Pandya do subcontinente indiano. Apesar de a promoção do espetáculo prometer que o foco estaria em "eventos históricos", rapidamente nos afastamos dessa restrição.
    Os membros do elenco e suas décadas de experiência em improv tornaram muito mais fácil fazer essa escolha. Meus temores iniciais de "Mas nós prometemos ao público eventos históricos" foram corretamente rebatidos com "Ele preferem ver um bom espetáculo".

  2. Figurino. Todo mundo ficou muito entusiasmado com a ideia de os seres alienígenas estarem errando um pouco nas coisas humanas, inclusive nas roupas. Como as fotos indicam, esses alienígenas usam roupas humanas normais, mas um pouquinho erradas (3 gravatas com calças de esqui? Roupa de tubarão? Estampa animal? Bata com gravata borboleta?).
    Os membros do elenco e suas décadas de experiência em improv tornaram muito mais fácil fazer essa escolha. Meus temores iniciais de "Mas talvez estejamos exagerando nos artifícios" foram corretamente rebatidos com "Preferimos fazer um espetáculo divertido".

  3. Locução de introdução/Narração. Desenvolvemos toda uma história de fundo sobre o motivo de estarmos falando sobre a cultura humana, e estava demorando muito para explicar em personagens. Decidimos pré-gravar uma introdução, dando as boas-vindas a “colegas agentes” (o público) ao nosso “julgamento” (uma defesa de doutorado de alto risco sobre H.U.M.A.N.S., se preferir). 

Os membros do elenco, e suas décadas de experiência em improv facilitaram muito essa decisão. Meus temores iniciais de "Mas será que ainda é improv se for pré-gravado?" foram corretamente respondidos com "Preferimos fazer um espetáculo divertido".


Descoberta #3: Assim como as cenas de improv, os formatos de improv são sempre flexíveis, e as escolhas que quebram as "regras" são boas se melhorarem a experiência do público/conforto de quem joga.


Para o nosso último ensaio, a IMPRO Amsterdam nos ofereceu uma sessão de treinamento com Tom Hill da “Blind Tiger Comedy” de Vancouver. Não podemos enfatizar o quanto foi valioso o fato de Tom ter analisado nosso formato. Sem querer ser injusto com os comentários de Tom ao tentar explicá-los aqui, o ponto crucial do feedback foi entender o que funcionava em nosso formato e simplificá-lo.


Por exemplo, em nossa empolgação, adicionamos camadas e mais camadas: éramos pessoas improvisadoras fingindo ser alienígenas fingindo ser humanas. Embora isso fosse extremamente divertido, cada cena exigia que fizéssemos uma parte em três níveis, o que... não era sustentável. Tom nos ajudou a perceber que a graça do formato está no fato de alienígenas entenderem mal os costumes humanos reais.


Descoberta #4: Quanto mais simples, melhor.


Descoberta #5: Olhos externos ajudam a ver o que você pode não perceber.


O espetáculo foi bem. Se fôssemos pessoas que se gabam, diríamos que nosso espetáculo de estreia foi aplaudido de pé e que recebemos uma ovação do público. Não somos pessoas que se gabam, portanto, diremos apenas que o espetáculo foi bem. (Bem o suficiente para ser aplaudido de pé, mas você não ouviu isso de nós).


Desde então, apresentamos o formato mais duas vezes. Como este texto é uma "revelação" sobre o formato, admitiremos que, embora tenhamos satisfação com os dois espetáculos seguintes, eles não atingiram o nível de nossa primeira apresentação. (Bem, não houve aplausos de pé).

Com o poder da retrospectiva, reconhecemos ainda mais o quanto a situação influencia na conversão de um bom formato em um ótimo espetáculo: mentalidade de quem joga - A expectativa/nível de cansaço do público - A estrutura do teatro e muito mais. 

Aprendemos muito sobre nossas próprias reações e gostos jogando em conjunto. E isso nos levou à nossa descoberta final (para este artigo).


Descoberta #6: Às vezes, os H.U.M.A.N.S. que saem para se divertir, têm sorte.


¹“Thames” soa como "them” (“eles/elas/elos") quando as  pessoas londrinas o dizem, e então volta a fazer sentido.



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IMPROWORLD
TRÊS COISAS QUE APRENDI COMO PRODUTORA DE FESTIVAIS

por Lena Breuer - lena.s.breuer@gmail.com   



O verão está quase acabando e isso significa que na Alemanha: A temporada de festivais começa! Embora haja muitos festivais de improv no verão em outros países, nós, na Alemanha, simplesmente não gostamos de ir ao teatro quando está quente. Somente agora, no início de setembro, os festivais nacionais e internacionais na Alemanha começam novamente. Nos últimos três anos, o IFO Impro Fest tem sido um desses festivais internacionais. Criado como um festival on-line no início da pandemia, comemoramos nosso terceiro aniversário de 2 a 5 de novembro.


E como 3 é considerado um número mágico, aqui estão três coisas que aprendi como produtora de festivais.


1. Equipes pequenas para a vitória


Quando a equipe foi criada, no início da pandemia, éramos muitas pessoas. Uma grande equipe de cerca de 15 pessoas. Quanto mais tempo o Impro Fest Online durou, menor ficou a equipe e, no final, éramos 5 pessoas espalhadas por toda a Alemanha (e Suíça). Organizar um festival para mais de 100 pessoas com 5 pessoas na equipe principal! Uma loucura, mas conseguimos. No ano seguinte, apenas 4, e agora somos 5 pessoas novamente. Portanto, não se trata de quantidade, mas de qualidade.


2. Tudo permanece diferente. Sempre.


A Covid mudou tudo, inclusive o cenário dos festivais. Grandes eventos que foram muito bem-sucedidos durante anos desapareceram. Muitos festivais diminuíram de tamanho. Por outro lado, surgiram muitos festivais novos. O nosso, por exemplo! E a mudança continua: a venda antecipada de ingressos tornou-se quase impossível, as pessoas fazem reservas em cima da hora e até mesmo os "grandes nomes" de antes da pandemia podem não funcionar mais. O que isso significa para nós é que temos que nos rever continuamente. E nos adaptar.


3. Criar o futuro, agora.


Já passamos por dois anos de festivais bem-sucedidos. E este ano também será ótimo. Mas já estou pensando no que acontecerá no próximo ano e no ano seguinte. Em meus sonhos, o IFO Impro Fest continuará por muitos anos. Eventualmente, não comigo como diretora do festival - e essa é uma perspectiva muito boa. Parece loucura, mas o que aprendi acima de tudo é que, se você quiser que alguma coisa tenha futuro, deixe-a crescer agora. E o crescimento não está ligado às pessoas, mas à ideia.


Mas, por enquanto: Inscreva-se no IFO Impro Fest em novembro, em Bielefeld. Temos uma programação estelar de todo o mundo, workshops para todos os níveis e uma aula magistral de Commedia dell’Arte com uma pessoa docente da Itália. Oh, e Bielefeld existe, eu prometo.


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IMPROLECTORA
CORPO, MOVIMENTO, IMAGEM

por Pamela Iturra - impro.lectora@gmail.com



A Impro tem uma qualidade mágica: a criação de algo novo diante de seus olhos. Uma história, uma cena, um lugar, um mundo, uma personagem, um objeto. Tudo está lá, embora nada "esteja" lá. Nós, como artistas, vivemos isso coletivamente e o público percebe, sente e vê isso. "The Improv Illusionist", de David Raitt, é um livro que se concentra em explicar como essa mágica funciona e nos dá orientações valiosas para fortalecer nossa atuação por meio da fisicalidade e do movimento no espaço.


O autor define impro física como qualquer técnica que cria uma ilusão de objetos, atividades e lugares que não estão realmente presentes e afirma que, se fizermos esse trabalho com cuidado, poderemos nos aprofundar na criação de personagens e na narrativa e proporcionar uma experiência muito mais rica e maravilhosa ao público.


Raitt argumenta que o compromisso com o jogo físico eleva nossa arte, nos permite descobrir mais elementos com os quais jogar e nos ajuda a parar de pensar e nos conectar com o presente da cena, encontrando novas ideias e sendo melhores parcerias por meio da escuta e de ofertas claras. Além disso, ele explica que considerar o espaço na impro proporciona uma experiência mais completa e surpreendente para um público que observa cada detalhe do que está acontecendo e comemora o fato de testemunhar uma impro inteligente, em que quem improvisa usa a memória e reincorpora objetos e locais que foram definidos anteriormente, aumentando a credibilidade da história.


Um valor importante no livro de David Raitt é o lema: "ferramentas, não regras". Durante todo o livro, ele enfatiza a importância de usar técnicas de impro física com flexibilidade e com o objetivo de ampliar e diversificar nossas possibilidades expressivas, a comunicação dentro do elenco e a criação de uma narrativa que surpreenda o público.


O autor nos apresenta ao trabalho com objetos, oferecendo uma série de exercícios e observações a serem levadas em conta quando "tornamos visível o que é invisível". O segredo ao criar objetos é usar de mais especificidade, detalhamento e objetividade possível, e isso se consegue com a prática. Treinar nossos instintos e nossa memória muscular, reconhecer as qualidades e a localização dos objetos quando os manipulamos e se afetar por sua presença são alguns dos elementos desenvolvidos nessas páginas. David também nos adverte sobre os maus hábitos no trabalho com objetos e dá conselhos transversais: acalme-se e brinque devagar; mantenha-se presente e explore o momento; comprometa-se com uma atividade e faça-a de forma simples e cuidadosa.


Em seguida, o livro se concentra na criação de espaços e ambientes. O autor diz que há três tipos de espaços: o imediato, o geral e o ampliado, e explica como interagir com eles. Ele nos incentiva a confiar em nossas ideias, a nos comprometermos com elas e a explorá-las com atenção absoluta, confiando que, a partir de uma ação no espaço, podem surgir personagens, motivos e histórias. Ele apresenta diferentes técnicas para criar espaços individuais ou coletivamente, além da visualização, usando nossa atitude, interações e diferentes sentidos e recursos (som, luzes, música). Ele detalha como criar grandes espaços ao ar livre e usar nossos corpos para representar animais e objetos. Ele também oferece vários exercícios para aprender a comunicar de forma precisa as informações do ambiente às pessoas que são nossas parceiras, a fim de criar uma experiência crível e atraente para o público.


Os últimos capítulos do livro têm um caráter mais avançado e são direcionados principalmente a profissionais da impro que dirigem espetáculos ou dão aulas. Ele aborda a fisicalidade e o espaço na impro como um recurso repleto de ideias que nos permitem levar a história adiante quando ela está estagnada ou passando por um caminho difícil, tornando-a uma ferramenta muito poderosa para a solução de problemas. Há um capítulo totalmente dedicado a "situações complicadas" e como lidar com elas. Há também uma seção inteira sobre segurança física e emocional e outra focada em como abordar o momento exato do espetáculo, o ensino de impro física e a experiência de improvisar on-line.


O livro se aprofunda em vários detalhes, tem inúmeras ideias e um amplo repertório de exercícios em cada capítulo e no apêndice final. É um livro de exercícios maravilhoso para orientar uma prática de longo prazo. Os exercícios são explicados com tanta eloquência que, enquanto você os lê, sente vontade de começar a improvisar e trabalhar.


O autor encerra o livro com um convite à prática constante e à compreensão de que a impro física é um processo que exige coragem, bravura, determinação e perseverança. Usar a fisicalidade, os espaços e os objetos é apenas mais uma ferramenta em nosso kit de habilidades, que deve ser compreendida em conjunto com os princípios básicos da impro e o contexto de nossas próprias comunidades, e que todas as técnicas apresentadas podem ser ampliadas e aprimoradas com a experiência. Depois de ler este livro, você só precisa ousar, praticar, brincar e criar ilusões novas e mágicas.



Leia-o se:


Você quer usar sua fisicalidade a serviço de sua atuação.

Você já tem experiência em impro e deseja novos recursos.

Você é docente e deseja aprimorar seu ensino sobre trabalho físico.


Seu principal valor:


A especificidade e a profundidade com que aborda objetos, ambientes e fisicalidade. É um livro avançado com muitos detalhes teóricos e práticos. É uma apostila que pode ser usada em cursos longos.


Minha parte favorita:


A importância que ele dá à segurança física e emocional de quem improvisa, não apenas na seção em que ele explica os diferentes elementos que nos permitem jogar com segurança, protegendo as outras pessoas e a nós, mas também em todo o livro.



Minhas citações favoritas:


"A improv física é poderosa. Pense em seus momentos de improv mais memoráveis, em cenas que você viu ou interpretou. Aposto que você se lembrará de mais cenas que envolveram ação física do que diálogos inteligentes. Mas mesmo os momentos que envolvem apenas diálogos geralmente ganham força com o contexto proporcionado pela fisicalidade".


"A improv moderna precisa ser mais lúdica. Mesmo para iniciantes, um workshop deve ser mais um laboratório do que uma fábrica".

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