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Ep 10 - Status #154 - Abril de 2024

  Com a autorização da revista internacional de improviso Status, Luana Proença e Davi Salazar traduzem e gravam em português o conteúdo mensal da revista. 

SIM, existe uma revista mensal sobre Impro que questiona e valoriza o que fazemos, E seu conteúdo é disponibilizado em português AQUI por escrito, e em áudio em nosso PODCAST no Spotify: Revista Status - PT.

A revista STATUS é publicada mensalmente e virtualmente em espanhol, inglês, italiano e francês. Informações e assinaturas: https://www.statusrevista.com/







A tradução da revista é feita em linguagem de gênero neutra, sem a identificação de gênero do sujeito das orações quando generalizado.


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OPINIÃO

QUALIDADE CERTIFICADA

por Feña Ortalli


A forma como as propostas são selecionadas para um festival de impro varia de acordo com quem o organiza. Alguns baseiam seus convites em sua própria experiência e trazem espetáculos que já conhecem, enquanto outros operam com um sistema de inscrição aberta em que qualquer pessoa pode apresentar seu espetáculo. Se a primeira opção nos oferece mais segurança, ela também acaba gerando uma espécie de endogamia em que acabamos vendo sempre os mesmos espetáculos e os mesmos rostos em todos os lugares. Por outro lado, a chamada aberta acaba sendo uma loteria, porque não importa quantas fotos, vídeos e descrições de um espetáculo solicitemos, nunca sabemos exatamente o que vamos encontrar, porque - a menos que encontremos a companhia mais sincera do planeta - ninguém vai enviar uma gravação de uma apresentação ruim ou medíocre. É por isso que há algum tempo venho pensando em uma terceira via. Recomendação. É claro que isso não é uma novidade. Quando alguém se candidata a um emprego, muitas empresas solicitam uma ou mais cartas de recomendação junto com seu currículo. Alguém precisa "certificar" seu trabalho. Essa pessoa está disposta a colocar seu nome e reputação como garantia. Então, e se não pudermos apresentar nosso próprio espetáculo (ou workshop), mas outra pessoa tiver que fazer isso por nós? Imagine o seguinte cenário: a organização do festival abre a chamada. Não posso apresentar meus projetos, mas posso recomendar outras pessoas, sempre considerando que faço isso sob minha responsabilidade. Embora eu esteja na louca vontade para participar do evento, terei de esperar que alguém considere que meu trabalho merece estar naquele festival. Cada pessoa "garantidora" é responsável pelas propostas que recomenda. Seu prestígio, seu instinto de programação está em jogo. Felizmente, e graças ao fato de que há cada vez mais pessoas migrando de um festival para outro, temos olhos e ouvidos em todos os lugares que registram tudo o que acontece nesse mundo da impro em constante crescimento A proposta está lá fora. Que espetáculo você me recomendaria se eu organizasse um festival?




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BIO

GERTRUDIS GOMEZ DE AVELLANEDA

por Feña Ortalli


Gertrudis Gómez de Avellaneda (1814 - 1873) foi uma romancista, dramaturga e poeta cubano-espanhola do período Romântico. Apesar de sua formação neoclássica, ela foi estimada em sua época como uma das principais figuras do Romantismo Hispano-Americano. Sua representação de personagens femininas a tornou uma das precursoras do feminismo moderno. A escritora nasceu em Puerto Príncipe, atual Camagüey (Cuba), em 23 de março de 1814. Era filha de pai espanhol, Don Manuel Gómez de Avellaneda, comandante naval em Cuba, e de mãe cubana, Doña Francisca de Arteaga y Betancourt, de uma família distinta e rica. Após a morte de seu pai em 1823, Doña Francisca se casou novamente dez meses depois com o oficial militar espanhol Gaspar Isidoro de Escalada y López de la Peña. Em 1836, seu padrasto convenceu a esposa da conveniência de vender suas propriedades em Cuba e se mudar para a Península. Uma vez em La Coruña, Gertrudis escreveu suas seis primeiras composições, incluindo "A la poesía", "A las estrellas", "La serenata" e "A mi jilguero". Depois de dois anos no norte da Espanha, Gertrudis mudou-se para Sevilha, onde publicou seus versos sob o pseudônimo de La Peregrina em jornais e revistas da cidade e, mais tarde, em alguns de Cádiz. Em 1840, após estrear sua primeira obra dramática, “Leoncia”, ela se estabeleceu em Madri, onde iniciou um período de prolífica atividade literária. Entre 1840 e 1846, Gertrudis publicou a coleção de poesias Poesías (1841); os romances "Sab" (1841), "Dos Mujeres" (1842-1843), "Espatolino" (1844) e "Guatimozin" (1845); e estreou os dramas intitulados "Munio Alfonso" (1844), "El Príncipe de Viana" (1844) e "Egilona" (1846). Seu trabalho ocupou um lugar importante na cena espanhola durante o período de 1845-1855, quando o drama romântico havia declinado e a alta comédia ainda não havia surgido. Seus maiores sucessos no teatro vieram com dois dramas bíblicos: “Saul” (1849) e, especialmente, “Baltasar” (1858), considerado sua obra-prima no campo dramático. Ambos retratam diferentes aspectos do romantismo. “Saul” representa a rebelião, enquanto “Baltasar” retrata o cansaço existencial, a melancolia do "mal du siècle" que seria sentida na segunda metade do século por poetas simbolistas da França e do modernismo hispânico. Em 1853, após a morte de Juan Nicasio Gallego, seu grande amigo e mentor, ela se candidatou a um cargo na Real Academia Española, mas a vaga foi preenchida por um homem. Foi somente em 1979 que uma mulher, Carmen Conde, conseguiu entrar na RAE como membro. Gertrudis Gómez de Avellaneda morreu em Madri em 1º de fevereiro de 1873, depois de se dedicar quase exclusivamente à tarefa de revisar suas obras e preparar a edição completa delas em "Obras literarias, dramáticas y poéticas” (1869-1871).



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ENTREVISTA

MARTA BORGES

por Feña Ortalli



Primeira pergunta: Vamos imaginar que você esteja encarregada de escrever a definição de impro para o dicionário. Como seria? É o superpoder criativo mais inspirador que as pessoas podem usar na comunicação e na vida cotidiana. É a capacidade de criar, na hora, sem premeditações, todos os tipos de universos, narrativas e histórias sem bloqueio. Para as pessoas adultas em particular, é um playground onde se desfruta da liberdade de estar fora de controle, mas ainda a se sentir seguras. Como você descobriu esse superpoder? Todo mundo nasce com ele, mas, quando crianças, é algo em que não pensamos. Somos seres criativos, usamos o conceito de brincar de forma natural e intuitiva, a agir com SIM, E para tudo. Somente quando crescemos, nos tornamos adolescentes e, mais tarde, "adultos responsáveis", começamos a enquadrar nossas crenças, convicções, deixamos nossos medos invadirem nossas vontades e nos tornamos apenas pessoas do SIM, sem o E. Sempre fui uma criança curiosa, com uma mente inquieta, que cresceu e continuou a querer tentar de tudo, viajar, experimentar e deixar algumas portas se abrirem, enquanto ao meu redor, a maioria das minhas amizades, estavam a se estabelecer mais rapidamente. Eu costumava invejar o fato de não saber desde o nascimento o que eu queria ser, como a maioria das pessoas que eram minhas amigas. Eu queria ser apresentadora de TV, jornalista, dançarina, advogada, babá de animais, e isso variava ano após ano. Agora sei que era eu que mantinha todas as possibilidades em cima da mesa e era meu espírito improvisador natural que estava a surgir, ansioso para tentar coisas novas, novas experiências. Compreendi formalmente o que era exatamente esse superpoder, a alegria que ele traria para minha vida e como transformaria toda a atriz que sou, em um workshop de teatro em 2008, com uma professora holandesa chamada Sanne Leijennar. Como você acabou participando desse workshop em 2008? Não escolhi entrar na Universidade de Teatro quando tinha 18 anos porque não tinha certeza do que queria ser profissionalmente e, embora adorasse artes, não estava a me imaginar como atriz. Então, me formei em Comunicação Empresarial e, ao mesmo tempo, no meu terceiro ano de universidade, comecei a fazer um curso de teatro, sem nunca esperar que um dia isso se tornaria minha profissão formal. Comecei como um hobby e logo tudo mudou e o que era um caminho secundário se tornou minha primeira opção. Tentei ganhar tempo e fiz o máximo de treinamento que pude e, em 2001, tornei-me atriz profissional. Eu estava a fazer teatro com guião [texto], comerciais, cinema, TV e tudo era muito bom, mas, novamente, minha inquietação me fez querer continuar a explorar. Eu estava a filmar um curta-metragem com um amigo que me sugeriu fortemente esse workshop e, sinceramente, só fui porque ele insistiu muito, porque imaginei erroneamente que seria apenas voltado para a comédia e, de alguma forma, algo como comédia Stand-up. Ainda bem que ele me conhecia melhor do que eu. Fiz aquela seção e nunca mais saí. Eu já disse isso antes, mas obrigado, Alexandre Ferreira! :) Você disse que, quando crianças, somos todas pessoas que dizem “sim, e” e depois, quando crescemos, nos tornamos apenas pessoas que dizem “sim”. Qual é a diferença? Quando você diz um SIM para alguma coisa, reconhece e entende a informação ou a sugestão que está à sua frente, mas é somente quando acrescenta o E que a ação é seguida e torna esse momento mais tangível. Para acrescentar o E, é preciso coragem para propor, ousar, tentar, desafiar algo que possa tirar-nos de nossa zona de conforto e fazer-nos avançar em direção a algo que talvez não controlemos... e ouvir alguns NÃOS, que tememos muito. "O computador diz NÃÃÃÃOOOO" (apenas uma frase de uma série de TV que me veio à mente imediatamente). Imagine que fomos colegas de escola, mas não éramos pessoas amigas íntimas e nos encontramos na rua muitos anos depois. Como adultas educadas, diríamos oi e, depois de nos cumprimentarmos, diríamos algo como "precisamos nos encontrar um dia" ou "deveríamos nos falar novamente", sabendo que isso nunca acontecerá. E tudo bem. Mas se uma de nós realmente quisesse se reconectar, adicionaríamos imediatamente o E, a propor algo como: "Você tem alguma mídia social? Posso entrar em contato consigo pelo WhatsApp? O que estás a fazer hoje à noite?", etc. Voltando a 2008. É o mesmo ano em que o seu grupo Os Improváveis foi criado? Como isso aconteceu? O grupo foi criado a partir de dois workshops que Sanne ministrou naquele ano em Lisboa. Ela estava a ensinar improvisação em comunidades do Rio de Janeiro para ajudar crianças e a comunidade, sabia falar português e precisava de uma mudança em sua vida. Ela se mudou para Portugal e fez um workshop para artistas profissionais da cena em agosto de 2008. Lembro que vi um anúncio sobre isso, mas achei que não era adequado para mim. Eu era uma "garota de teatro dramático". Nossa, como eu era ingênua naquela época... Pedro Borges, com quem estudei na universidade e perdi o rastro, estava lá, entre outras pessoas. A Sanne viu logo o potencial de criar um novo grupo, porque em Portugal só existia um grupo de improv profissional, chamado COMMEDIA A LA CARTE. Mas ela precisava de um elenco maior e queria continuar compartilhando seu amor pela improvisação com a comunidade artística local. Esse primeiro grupo chegou a fazer alguns espetáculos informais na época. Participei do segundo workshop em dezembro e lembro que Sanne veio até mim no final do primeiro dia e disse: não há outras mulheres a fazer isso, preciso de ti aqui! Ela era muito inspiradora e contagiante. Eu ri e disse que ela era louca. Poucos meses depois, estávamos a criar legalmente uma associação cultural, a registrar o nome do grupo e a fazer um espetáculo semanal em um local pequeno e maravilhoso em Lisboa, que não existe mais: A Casa da Comédia. É o nosso local de nascimento. Vocês já trabalham em conjunto há muito tempo. Qual é o segredo? Houve uma grande vontade de crescermos em conjunto, como pessoas e artistas, uma união por um enorme amor pela improvisação, pelo teatro e pelas artes em geral, a respeitar as memórias de cada uma. Com uma grande dose de loucura e fé também na mistura. Foi um longo caminho, com muitas descobertas e o grupo continuou a evoluir. Somos um órgão vivo, às vezes cheio de força, outras vezes um pouco doente e precisamos nos adaptar. Daqueles primeiros tempos, apenas os Borges [Marta Borges e Pedro Borges] estão desde o início. Imagino que essa curiosidade que você mencionou anteriormente também a levou a cruzar o oceano para ter aulas em algumas das mais renomadas escolas de improvisação dos EUA. Como foi essa experiência? Chicago, em 2010, foi incrível. Pedro esteve lá em 2009 e chegou frenético. Então, no ano seguinte, arrumamos nossas coisas e estávamos lá no antigo prédio do iO (que não existe mais e onde se podia sentir o legado de Del Close) e tivemos a honra de participar do “Chicago Improv Festival”, a estrear lá nosso primeiro espetáculo de formato longo em inglês. Jonathan Pitts foi louco em nos convidar e Charna Hallpern nos cedeu seu palco icônico, entre outros lugares onde nos apresentamos. Não só estávamos lá a nos apresentar, mas também a fazer dezenas de aulas intensivas com as pessoas improvisadoras que mais admiramos e respeitamos. Além disso, ver tantos espetáculos, em todos os tipos de formatos, a acontecer noite após noite e ver mulheres a improvisar no palco (lembre-se de que eu não tinha nenhuma referência sobre isso antes!) foi um ponto de virada em nossas carreiras e como grupo. Observe que, em 2010, estávamos no lugar certo e no momento certo: como estávamos a fazer aulas, voamos antes de todos os outros membros do elenco do CIF. Então, as cinzas do vulcão islandês entraram em erupção e ninguém pôde voar. Éramos as únicas pessoas que já estavam lá, junto com um improvisador sueco, que convidamos para se juntar ao nosso elenco durante o festival. Então, basicamente, fizemos muito mais espetáculos em todos os tipos de locais mágicos do que o esperado inicialmente. Em 2012, viemos novamente para o “Annoyance Summer Intensive”, onde tivemos aulas com grandes artistas, como Susan Messing, Mick Nappier e Jet Eveleth, entre outras pessoas improvisadoras famosas. Também tivemos aulas particulares no Second City e sempre tentamos fazer o máximo que podíamos durante os dias em que estávamos lá. Tivemos até o prazer de passar uma tarde especial a improvisar na sala de estar de T.J. Jagodowski. Ver o espetáculo de "TJ & Dave" ao vivo, noite após noite, foi uma experiência celestial. Em 2013, estávamos a nos apresentar na “Del Close Marathon”, em Nova York, então aproveitamos a chance para fazer mais um treinamento na UCB Chelsea. Improvisar em um segundo idioma (como vocês sabem!) é sempre muito desafiador, mas, além disso, é super rápido! - "The Game", foi o momento mais difícil da minha curva de aprendizado. "The Game" ("O Jogo") é como "A Força" (jedi), quase impossível de explicar. Como você o definiria? The game [o jogo] é a repetição de um padrão durante a cena. É a descoberta de algo especial da cena ou de uma personagem, o que está lá embaixo, para ser usado. O desafio é encontrar a maneira de entregar isso de forma inteligente, na progressão certa. Nunca muito rápido, muito lento ou muito óbvio! Qual é o seu espetáculo favorito de Os Improváveis e por quê? Até agora, meu espetáculo favorito de OS IMPROVÁVEIS é “IMPROFADO”. Um espetáculo intimista, teatral e poético de formato longo que combina teatro improvisado, música e pintura ao vivo no palco, inspirado na letra de uma canção de fado (gênero musical típico português) e em uma história pessoal compartilhada pelo público. Corremos o risco de estrear esse formato mais "lento" na “Del Close Marathon”, que acontece 24 horas por dia (no “Upright Citizens Brigade Theater” e em outros locais), em um espaço de 30 minutos, em meio a espetáculos de improv de comédia estadunidense muito rápidos. No “IMPROFADO”, sempre começamos com um blackout, com música emocional e nos permitimos ser muito teatrais, profundos e físicos nesse espetáculo. Ainda bem que foi um sucesso, porque o público precisava desse momento de respiro. Fomos até o único grupo a trazer um piano para nossa apresentação! Gostaria de acrescentar que, por causa desse espetáculo, tivemos a honra de participar e representar o ponto de vista da improv portuguesa no documentário internacional "Thank You, Del: The Story of the Del Close Marathon", dirigido por Todd Bieber. O “IMPROFADO” também nos é caro porque foi a nossa bandeira de luta para que a Impro fosse aceito na nossa "comunidade teatral formal" e na imprensa, o que aconteceu. Tivemos acesso a apresentações em alguns dos maiores e mais prestigiados palcos e locais de Portugal. Você mencionou que foi a primeira mulher a improvisar em Portugal e que, somente após sua viagem aos EUA, teve algumas referências. O que mudou depois que você viu outras mulheres improvisando? O que mudou agora que há mais mulheres improvisadoras na comunidade? Quando recentemente adotei meu segundo gato, meu gato residente descobriu que não era o único, afinal. Havia mais como ele. Ele podia brincar de formas diferentes. Isso abriu um mundo totalmente novo de possibilidades. Como eu (sim, sou uma mulher de gatos, de cachorros e de animais, devo dizer). Também me senti muito fortalecida. Nas artes, na comédia e na sociedade em geral, as mulheres ainda enfrentam muitos preconceitos culturais, desafios, estereótipos, pressão familiar e reações negativas, que desempenham um papel importante na escolha de determinadas carreiras, na contratação e nas decisões de promoção. Naquela época, eu não tinha dúvidas quanto à minha escolha, mas foi inspirador ver outras mulheres em todo o mundo a ocupar palcos, liderar grupos, a se divertir e ser respeitadas como artistas. As mulheres enfrentam uma enorme pressão, entre elas o maior medo do fracasso e o medo de se manifestar, por isso ainda precisamos de transformações sociais mais profundas. Mesmo em uma área aparentemente mais democrática e aberta como o teatro e as artes. Eu sentia essa pressão. Às vezes ainda sinto. Não diretamente das pessoas que são minhas parceiras, mas ao meu redor. Há alguns padrões de comportamento aprendidos que as mulheres podem trabalhar e alavancar para mudar, se adquirirmos esse conhecimento. A improvisação é uma habilidade muito poderosa para essa mudança. Além disso, o uso não teatral da improvisação (também conhecido como improvisação aplicada) que uso diariamente no treinamento corporativo pode ser extremamente benéfico e deve ser usado como uma ferramenta para o empoderamento feminino. A Improvisação Aplicada já está sendo usada como ferramenta de treinamento por empresas da Fortune 500, start-ups, universidades e muitas outras organizações em todo o mundo, para aprimorar a comunicação, a criatividade, a liderança e a colaboração, entre outras habilidades. Sou apaixonada por pessoas. Sobre nosso cérebro e nossa criatividade como seres humanos. E realmente acredito que as mulheres também agregam valor e perspectiva únicas. Temos uma pontuação muito alta em agir com resiliência, praticar o autodesenvolvimento, buscar resultados, aprimorar o pensamento de grupo, melhorar a dinâmica da comunicação, demonstrar alta integridade e honestidade, o que é ótimo para a improvisação. No palco e fora dele. Última pergunta! Quem você acha que deveríamos entrevistar? Do mundo da improvisação ou qualquer outra pessoa? Ambos! Do mundo da improvisação, eu diria que seria ótimo conhecer o cérebro de T.J. Jagodowski. Se você pudesse atravessar o tempo, eu sugeriria fortemente Del Close. Fora do mundo da improvisação, eu adoraria entrevistar Frida Kahlo (que está de fato no chat gpt agora) ou Olivia Colman. Eu pediria à Olivia que, no final da entrevista, fizesse sua imitação de pombo, que é hilária!




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DICAS E TRUQUES

COMO RESPONDER A ESSA PERGUNTA DA TURMA

por Laura Doorneweerd-Perry



Quando você está dando uma aula de improv, provavelmente já recebeu perguntas como: "Devo então sempre fazer isso?" ou "Então quem improvisa nunca deve fazer isso?" Como você responde a esse tipo de pergunta frequente? O tipo de pergunta em que a pessoa estudante está procurando a regra, o caminho claro, a verdade? Depende. Essa seria minha resposta real. "Depende." Porque você e eu sabemos que a improv é, na verdade, bastante flexível e imprevisível. Portanto, podemos praticar habilidades e regras em nossas aulas, mas, eventualmente... Depende mesmo. E quando você já faz improv há algum tempo, sabe disso por experiência própria. Que o melhor sim e, às vezes, vem de um não. Ou que encarar a plateia é importante, até que alguém faça a ótima escolha de não encarar. Mas, como professora de improv, pode haver uma tentação real de falar em termos absolutos. "Sim, Sam, você deve sempre limpar o palco quando alguém varre."; "De fato, Jessy, a pessoa que improvisa nunca deve falar uns sobre as outras." A realidade, entretanto, não é tão preto no branco. E acho que devemos nos esforçar ao máximo para não responder às perguntas de nossas turmas com afirmações absolutas. Porque isso simplesmente não reflete a natureza flexível da improv. E apoia a ideia completamente maluca de que existe uma maneira "certa" de fazer improv. Mas é claro que responder claramente que isso depende pode ser menos satisfatório. Já tive uma ou duas pessoas alunas que reviraram os olhos quando pronunciei essas palavras (novamente). Portanto, aqui estão algumas variações: "Depende. Na maioria das vezes, sim, mas em situações de X, talvez não." "Depende. Eu costumo ensinar mais X, porque em sua maioria na improv já tem muito Y." "Depende. Quando você faz X, o efeito que tem geralmente é Y." "Depende. De acordo com meu gosto: Eu gosto mais de X." "Depende." *olhar malicioso*






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GENÉTICAS

THEY ALL DYE IN THE END

por Ella Galt

Sessão coordenada por Luana Proença (luanamproenca@gmail.com)


Algumas das práticas pedagógicas comuns na América Latina que sempre me inspiraram em Teatro são as chamadas Desmontagens Cênicas ou os estudos da Genética Teatral. Uma abertura dos processos de criações onde eles são “desfeitos” parte a parte para que possamos ver como se deu a junção daquela obra. Assim, todos os meses eu vou dar espaço para grupos e artistas abrirem suas criações para uma partilha inspiradora. Se você quiser partilhar sobre o seu processo, entre em contato comigo, Luana Proença. Quando li este artigo da Ella Galt sobre o espetáculo “They All Die at the End” (“Todo Mundo Morre no Fim”), lembrei-me do início do filme brasileiro de 2003 “Lisbela e o Prisioneiro”. Lisbela é fascinada por filmes e sabe tudo o que vai acontecer, então seu namorado pergunta qual é a graça disso. Vou deixar que você leia este artigo com a resposta de Lisbela: "A graça não é saber o que vai acontecer. É como acontece e quando acontece. Vamos conhecer um monte de gente nova... Um monte de problemas que não podemos resolver, que só eles podem. Vamos ver como e quando. Está começando..." *** They All Die at the End (Estreia em 2023) Criado, autodirigido e apresentado pelo elenco do Barcelona Improv Group: Ella Galt, John Lane, Kevin Cahill, Kiva Murphy, Leanne Sheallshear e Martin Robinson, com direção técnica de Dominika Bakun. “They All Die at the End” é uma peça de regência improvisada com um final terrível. Ela convida o público a entrar no mundo extravagante e farsesco de uma família aristocrática do século XIX e, à primeira vista, é uma sátira do absurdo de seu mundo e da maneira como vivem nele. Na segunda metade, um catalisador fora do palco altera o curso da peça, que mergulha no melodrama gótico, tornando-se cada vez mais sombria até que todas as personagens encontrem seu fim em uma montagem gloriosamente macabra da morte. O processo criativo Pelo segundo espetáculo consecutivo, nosso processo de criação foi orientado por uma metodologia que me foi ensinada por Jason Geary. Tivemos tanto sucesso com o espetáculo de formato curto que criamos dessa forma, com todo mundo obtendo o que queriam do formato e sentindo que poderiam apoiar o espetáculo, que decidimos usar o mesmo roteiro novamente. Começamos nos perguntando, como indivíduos, o que gostávamos de fazer, que tipos de coisas queríamos poder explorar e quais eram nossos pontos negativos e práticas a serem evitadas. Desde o início, a coceira que todo mundo sentiu necessidade de coçar era algo baseado em gênero e orientado por personagens, com a capacidade de permanecer com uma personagem durante todo o espetáculo e criar um mundo no qual o público pudesse entrar. Depois de criarmos nossas listas de desejos pessoais, começamos a buscar pontos em comum sobre temas, gêneros, habilidades, convenções, estética, técnicas, dispositivos, cenários, etc., que queríamos incluir. O elenco jogou tudo na mesa, desde peças de teatro e filmes que tinham algo que queríamos recriar, até elementos de histórias que havíamos lido em livros, passando pela tentativa de descrever um sentimento a partir de uma música, escolha de iluminação ou estilo de jogo. Começamos então o processo de redução. No final, chegamos à declaração de missão do nosso espetáculo: "Fazer um espetáculo sobre a descoberta do que está por baixo, usando teatralidade, personagens ricas e exageradas e uma surpresa climática." Ainda não tínhamos tomado nenhuma decisão sobre como cumpriríamos essa missão, mas voltamos muitas vezes à nossa missão coletiva para verificar se as ideias e as escolhas serviam ou se distraíam dela. Uma vez lá, nos inclinamos fortemente para os gêneros literários romântico e gótico, inspirando-nos especialmente na sátira de Jane Austen e no assustadorismo de Bram Stoker, Mary Shelley, Charlotte Bronte etc. Em algum momento, nos deparamos com o nome do espetáculo e começamos a elaborar as peças do enredo para trabalhar de trás para frente, de modo que soubéssemos o final, e improvisamos nosso caminho até lá. Ao longo do caminho, muitas ideias acabaram sendo cortadas: uma personagem morrendo no intervalo e a pessoa atriz retornando como uma estranha na segunda parte, a protagonista sendo revelada como a narradora da própria história e muitas outras reviravoltas excessivamente complicadas que, embora empolgantes enquanto discutíamos, no final, atrapalhavam mais do que ajudavam. A estrutura/formato O espetáculo começa com uma personagem narradora dando as boas-vindas ao público para a leitura desta noite, agradecendo-lhes por fornecerem vícios, hobbies e obsessões do século XIX para inspirar nossas personagens. Uma a uma, as pessoas jogadoras se aproximam do palco vestindo seu traje básico e, inspiradas pelas sugestões retiradas do livro sugerido da noite ("boticário", "jogatina" ou - sim, já ouvimos isso uma vez - "arremesso de texugo"), escolhem o traje de sua personagem entre as selecionadas no palco. A narradora é a última a se vestir e, uma vez que todas as personagens tenham sido criadas, nossa história começa. O primeiro ato é uma brincadeira divertida: conhecemos todas as personagens, as vemos interagir com os membros da família em diferentes combinações e desfrutamos de uma maratona de ritmo acelerado, com muitas brincadeiras e pastelão, que não apresenta nenhuma pista sobre a devastação que está por vir. Na primeira metade, contamos muito com o ritmo da fala e dos gestos, com cada personagem deliciosamente distraída com suas próprias obsessões, convidando os membros da família e o público para o funcionamento de suas mentes e mostrando as diferentes dinâmicas presentes em cada parceria. Essa parte do espetáculo apresenta muitas encenações lúdicas, entradas e saídas, e toda a estupidez e inconsciência que se pode esperar do gênero. Durante o intervalo, o tom muda, o palco se enche de fumaça e a música clássica jovial presente no primeiro ato é substituída por uma trilha sonora mais sinistra. O segundo ato começa com uma cena de grupo, com toda a família tentando entender a coisa devastadora que aconteceu desde a última vez que a vimos. Tendo evitado discutir a história no intervalo, uma pessoa jogadora se voluntaria para contar o que aconteceu e as consequências começam a se espalhar pela casa. A dinâmica dos relacionamentos se desenrola de maneiras novas e surpreendentes à medida que as personagens são catapultadas para a escuridão, resultando em ciúmes, disputas de poder, loucura, medo, visões fantasmagóricas, insanidade e, finalmente.... A morte. Consumidas por suas loucuras, vícios, obsessões e vinganças, as personagens se veem tanto perpetradoras quanto vítimas e descem para uma sequência final de montagem de assassinatos e mortes acidentais e intencionais. “They All Die at the End” é a nossa maior oferta teatral até o momento, e não foi sem alguma hesitação que a apresentamos pela primeira vez ao nosso público. Será que vão gostar tanto quanto nós? Será que vão entender? O grupo ficou surpreso ao descobrir que a estreia do espetáculo foi uma das apresentações mais cômicas que já fizemos e tem sido uma das favoritas do nosso programa para o público improvisador e não improvisador, bem como para o elenco, desde que o lançamos.


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