Com a autorização da revista internacional de improviso Status, Luana Proença e Davi Salazar traduzem e gravam em português o conteúdo mensal da revista.
SIM, existe uma revista mensal sobre Impro que questiona e valoriza o que fazemos, E seu conteúdo é disponibilizado em português AQUI por escrito, e em áudio em nosso PODCAST no Spotify: Revista Status - PT.
A revista STATUS é publicada mensalmente e virtualmente em espanhol, inglês, italiano e francês. Informações e assinaturas: https://www.statusrevista.com/.
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RESPEITO E ORIGINALIDADE
por Feña Ortalli
Sempre que procuro assuntos para escrever neste segmento, sempre surge alguma coisa. Quer seja algo que vejo, leio ou penso... o material é infinito.
Nesse caso, vou abordar um tema bem picante: direitos autorais em improvisação.
Esta não é uma preocupação nova. Na verdade, já escrevi sobre isso há mais de 12 anos na Status #9 (março de 2012). Tenho a mesma opinião? Parcialmente.
Eu sei que pode ser chato e até injusto querer fazer um determinado espetáculo e perceber que ele é protegido por direitos autorais, mas é o que é. Alguém investiu muito tempo, imaginação e talento naquele formato/estrutura/espetáculo específico e, a menos que libere os direitos, você tem que respeitar.
Acontece que muita gente conhece a improvisação apenas na sua forma genérica: pessoas improvisando em torno de uma determinada estrutura como La Ronde, Harold ou Armando; ou por meio de versões gratuitas e adaptações de Teatro-Esporte, Maestro ou Gorilla.
Usar uma estrutura ou formato subjacente de um espetáculo protegido por direitos autorais é uma coisa; fazer o espetáculo em si com todas as suas implicações (estrutura, cenário, personagens, dinâmica, etc.) é outra.
Digamos que você queira fazer Teatro-Esporte (registrado pela ITI). Depois deverá contactar as autorias (neste caso, a instituição que gere os direitos de autoria de Keith Johnstone). Não quer pagar? Não faça o formato! Faça outra coisa. Mude, torça, afaste-se disso. Encontre uma maneira diferente de fazer improvisação “competitiva”.
Um dos espetáculos que desenvolvi (com Diego Ingold) é “El Capricho del Rey”. O espetáculo não só tem uma estrutura clara, mas também encenação e elementos narrativos específicos. Você realmente acredita que poderia replicar esse espetáculo e eu não deveria me importar?
Na dissertação de mestrado “Derechos de autor en la improvisación teatral en España” ["Direitos de autoria na improvisação teatral na Espanha"], Diego Ramirez explica que “apesar do seu caráter efêmero, uma obra teatral improvisada poderia ser protegida sem necessidade de registo ou fixação. Podem haver diferentes contribuições, por vezes contidas num formato, e outras vezes o papel de quem a realiza pode intervir. Se as contribuições atingirem a originalidade necessária, essas pessoas colaboradoras serão consideradas autoras de suas contribuições.”
O autor faz uma distinção “entre aqueles formatos simples, próximos de diretrizes básicas facilmente alcançáveis por qualquer pessoa improvisadora, e aqueles formatos complexos que integram instruções específicas, complexas e características. Nestes últimos casos, reconhece-se que os formatos poderiam ter proteção e reconhecimento jurídico para quem os cria.”
É claro que quando se trata de questões jurídicas, entram em jogo as especificidades de cada comunidade. Mas, para mim, isso está mais ligado ao respeito e à originalidade.
Respeite o trabalho árduo das outras pessoas e se esforce para trazer ideias originais para o mundo do improviso.
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ADAM DE LA HALLE
por Feña Ortalli
Adam De La Halle (c. 1250-c. 1306) foi um poeta, músico e inovador do primeiro teatro secular francês que cultivou representantes admirados de gêneros trouvère mais antigos, mas também fez experiências com obras dramáticas mais recentes à época. Seu pai, Henri de la Halle, era um conhecido cidadão de Arras, e Adam estudou gramática, teologia e música na abadia cisterciense de Vaucelles, perto de Cambrai. Adam estava destinado à igreja, mas renunciou a essa intenção e casou-se com uma certa Marie, que aparece em muitas de suas obras. Depois de ingressar na casa de Roberto II, Conde de Artois; e estando ligado a Carlos de Anjou, irmão de Luís IX, visitou o Egito, a Síria, a Palestina e a Itália. Depois que Carlos se tornou rei de Nápoles, Adam escreveu “Jeu de la feuillée” (1275), uma fantasia satírica baseada em sua própria vida, escrita para divertir seus amigos em Arras após sua partida para Paris para prosseguir seus estudos. A peça é considerada a primeira obra do teatro secular francês. Um ano depois escreveu a sua obra mais famosa: “Jeu de Robin et Marion” (1276), uma dramatização do tema pastoral do cortejo de um cavaleiro a uma bela pastora, com danças e diálogos campestres. Sua genialidade estava em combinar canções populares, danças, jogos e melodias instrumentais na peça As composições de De La Halle influenciaram a música medieval posterior e a tradição do teatro francês, fazendo a ponte entre os períodos medieval e renascentista. O musicólogo e crítico belga François-Joseph Fétis considerou suas obras precursoras da ópera cômica (opera buffa) desenvolvida posteriormente na Itália do final do século XVII. FONTES: https://en.wikipedia.org/wiki/Adam_de_la_Halle https://www.ecured.cu/Adam_de_la_Halle https://www.britannica.com/biography/Adam-de-la-Halle
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CHARLOTTE GITTINS
por Feña Ortalli
“Fazer coisas erradas com alegria é uma coisa linda”
Conheci Charlotte na primeira edição do Flock Festival em Amsterdã, em junho passado e, depois de vê-la no palco pela primeira vez, soube que queria entrevistá-la. Sua presença, calma e talento geral fazem dela uma das melhores pessoas improvisadoras com quem já trabalhei. O que você gosta na impro? O que você gosta na vida? OK, terei que responder a isso de forma relativamente rápida, para não ter um colapso existencial completo e tentar, sem sucesso, responder o significado da vida em uma entrevista. A vida em primeiro lugar: na melhor das hipóteses, é uma aventura maravilhosa e confusa, que nunca acontece como você espera, mas surpreende pessoas, lugares e coisas (especialmente cães). Pode ficar muito difícil e quanto mais cedo você perceber que nunca vai acertar, mais feliz você ficará. Isso faz algum sentido? Eu estava falando sobre a vida, mas acho que exatamente o mesmo se aplica à impro. Quando você percebeu que nunca iria acertar na impro? Quase imediatamente, o que foi ao mesmo tempo aterrorizante e emocionante. Foi muito libertador saber que você estava fazendo algo, francamente, insano, mas que os erros muitas vezes levavam isso a direções estranhas, interessantes e emocionantes que você nunca poderia ter planejado. Porém, como alguém que se sente inexplicavelmente culpada pela maioria das coisas, demorou muito mais para superar a culpa de potencialmente bagunçar uma cena para as outras pessoas no palco, já que é tão fácil presumir que elas milagrosamente sabem exatamente o que estão fazendo. Depois que você percebe que o cérebro de todo mundo está pegando fogo e que metade da alegria está em abraçar isso em conjunto, errar com a alegria é uma coisa linda. Como você descobriu a impro? Quando eu tinha 12 ou 13 anos, tive uma adorável professora de inglês chamada Sra. Allerton, que anunciou que faríamos improvisações uma vez por semana. Isso foi quando o Reino Unido tinha apenas 4 canais de TV principais e o programa “Whose Line Is It Anyway?” era enorme. Impro não era ensinada nas escolas do Reino Unido e eu nunca tinha visto nada ao vivo, mas adorei cada segundo. Avançando cerca de uma década, fiz um mestrado em teatro, mas a improvisação não estava no plano de estudos. Eu estava desesperada para tentar novamente, mas precisei de várias tentativas para psicologicamente me trazer a isso. Finalmente, fui a algumas aulas noturnas e me apaixonei novamente. Por que você continua improvisando depois de tantos anos? Oh, doce Senhor! Por onde começar? Mesmo quando você já faz isso há anos, você está constantemente aprendendo, evoluindo e percebendo que ainda há muito para descobrir, para que não envelheça. Você joga com pessoas que conhece há anos, que te surpreendem e te incentivam amorosamente a fazer melhor. Você joga com novas pessoas que testam suas habilidades de maneiras imprevisíveis e te surpreendem. Parece um pouco com uma viagem (e eu adoro viajar). Vocês embarcam nessas aventuras estranhas em conjunto, se relacionam fortemente com as pessoas ao seu redor e, com sorte, chegam ao final humilhadas e emocionadas com as infinitas possibilidades que existem. Eu me sinto tão estupidamente sortuda por poder fazer essa coisa ridícula. Estávamos brincando antes da entrevista sobre você ter nascido no século errado. Mas saber que você faz um espetáculo improvisado de Jane Austen (e depois de ver você interpretar Molière em Amsterdã) não está tão longe da verdade. Como nasceu o “Austentatious”? O que você gosta sobre o projeto? Na verdade, entrei no "Austentatious" um pouco depois de ele ter começado, então não posso assumir nenhuma responsabilidade por seu nascimento, mas estou muito grata por terem me deixado invadir a festa! É um mundo incrivelmente divertido de se jogar, sujeito a regras sociais e paixões ocultas. Você não precisa ter lido Jane Austen para entender os desejos, frustrações ou hábitos enlouquecedores das personagens (embora eu realmente recomende os livros, já que ela é muito engraçada). Além disso, as roupas são obviamente um sonho. Os outros membros do elenco de "Austentatious", incluindo nossas pessoas brilhantes musicistas e técnicas de improvisação, constantemente me surpreendem ao serem incrivelmente inteligentes e estúpidas no palco e encantadoras fora dele. Sempre que ela está no Reino Unido, também imploramos à gloriosa Patti Stiles para trabalhar no espetáculo conosco, o que sempre nos torna pessoas improvisadoras e humanas melhores e mais felizes. Somos muito livres com o espetáculo, então não nos apegamos a arcos narrativos ou personagens específicas dos romances. Nós apenas pegamos um título e partimos daí, mas há outros espetáculos de improv de Austen que soam brilhantemente em outros países, com seus próprios toques divertidos. Tendo definitivamente nascido no século errado, sou uma verdadeira fanática por espetáculos literários, então interpretar “Improvised Molière” (“Moliére Improvisado”) do Flock Theatre em Amsterdã foi divino e “Almost Ibsen” (“Quase Ibsen”) do Det Andre Teatret é de morrer. Quais você acha que são as principais coisas que uma pessoa improvisadora deve focar ao trabalhar com uma determinada autoria? Esteja você fazendo narrativas longas ou jogos curtos, as emoções que você traz às cenas muitas vezes parecem a chave para mim. Por que estamos vendo essas personagens neste momento específico? O que nos faz amá-las/odiá-las/admirá-las/ter pena delas? As pessoas improvisadoras geralmente são ótimas em diversão, o que é uma habilidade maravilhosa, mas se você conseguir fazer com que o público realmente se importe com as personagens no palco, poderá levar tudo a um nível totalmente novo. Por exemplo, pode ser incrivelmente divertido brincar com ritmos de fala, seja Shakespeare ou Molière, mas, se você não infundir emoção nelas, pode parecer apenas um exercício intelectual frio. Como os ritmos das palavras afetam as personagens? As restrições ou o lirismo da maneira como falam mudam a forma como se sentem? É incrível ver quem está improvisando explodindo em um pentâmetro iâmbico, mas se conseguem fazer isso e fazer o público experimentar verdadeira alegria/lágrimas/fúria/medo, esse é o sonho. Espetáculos literários/de gênero podem parecer tão intimidantes quando você é uma pessoa nova no estilo, mas quanto mais cedo você relaxar na linguagem e nos figurinos sofisticados e aproveitar o fato de que as personagens são provavelmente tão confusas quanto nós, mais divertido geralmente é para todo mundo. É importante respeitar o estilo que você prometeu ao público, mas não ficar prisioneira dele. Qual você acha que é o seu superpoder de impro? E qual você acha que seria o seu ponto fraco? Geralmente fico estupidamente animada e impressionada com as outras pessoas jogadoras ao meu redor, o que me obriga a melhorar meu jogo na esperança de trazer-lhes diversão, então sou basicamente um cachorrinho labrador humano. Isso conta como um super poder? Como muitas das pessoas que improvisam, minha inimiga é provavelmente a síndrome de impostora. Se estou cansada ou estressada, minha parte introvertida e cheia de culpa, que se preocupa em fazer besteira entra em ação e começo a me sentir desconectada do meu corpo e presa em mares de palavras. Felizmente, focar nas outras pessoas no palco é uma ótima maneira de calar meu ego, mas, quando o mundo real parece um pouco barulhento, sou definitivamente minha pior inimiga. Quais são seus projetos para a próxima temporada? Estou no Festival Fringe de Edimburgo no início de agosto, me apresentando com “Austentatious” e “Anxiety Club” (outro espetáculo longo com duas das minhas pessoas improvisadoras/humanas favoritas, Briony Redman e Lauren Shearing). Também sou convidada em alguns outros espetáculos e tenho muitos espetáculos de algumas das minhas amizades para ver, então será agitado, mas é sempre uma experiência incrível. Quanto ao outono, “Austentatious” estará de volta ao West End a partir de setembro, o que é ótimo, e farei alguns outros espetáculos em Londres. Também estou trabalhando nos bastidores em uma série de documentários de TV, então viajarei bastante neste outono, mas, felizmente, gosto de aventuras estranhas. Última pergunta, Charlotte. Quem acha que devemos entrevistar? Fico pensando em nomes, só para lembrar que você já os entrevistou (você é esperto)! Tem tantas outras pessoas maravilhosas por aí, não sei por onde começar, mas vamos com alguma inspiração musical... Yshani Perinpanayagam é um dos nossos incríveis músicos do “Austentatious” e tem uma carreira incrivelmente interessante, tanto improvisada quanto não. Paul Foxcroft é um improvisador muito engraçado e um cara legal, que acabou de se mudar de Londres para Manchester, então tem alguns planos muito divertidos em andamento.
LOST AND FOUND
por Liron Levin Seção coordenada por Luana Proença (luanamproenca@gmail.com)
Algumas das práticas pedagógicas comuns na América Latina que sempre me inspiraram em Teatro são as chamadas Desmontagens Cênicas ou os estudos da Genética Teatral. Uma abertura dos processos de criações onde eles são “desfeitos” parte a parte para que possamos ver como se deu a junção daquela obra. Assim, todos os meses eu vou dar espaço para grupos e artistas abrirem suas criações para uma partilha inspiradora. Se você quiser partilhar sobre o seu processo, entre em contato comigo, Luana Proença. Um espetáculo inteiro dentro de uma caixa: a caixa do Teatro com todas as histórias possíveis que somos/podemos ser. Uma caixa de objetos no palco pode ser o gatilho para essas histórias, principalmente se o público puder trazer seus próprios objetos para nós. Liron Levin de Israel foi à Grécia abrir esta caixa pela primeira vez… Talvez fosse uma espécie de caixa de Pandora como também pode ser a nossa imaginação, e de lá saltou um novo espetáculo: “Lost & Found” (“Achados e Perdidos”).
LOST & FOUND "Lost & Found" estreou em Atenas em abril de 2024, apresentando eu, Liron Levin, uma improvisadora baseada em Tel-Aviv, e o grupo SANS - Stelios Melas, Anna Patrikiou, Nikolas Drandakis, Stavros Atmatzidis - um elenco de improv baseado em Atenas. Como chegamos lá? Voltemos ao início. Eu estava trabalhando na criação de um novo formato. Adoro teatro físico, cenas silenciosas ou conversas mínimas. Isso funciona especialmente bem para apresentações no exterior, considerando os vários níveis de inglês no palco e na plateia, e sendo eu mesma um falante não nativa de inglês. Mas, por sorte, é também o que mais gosto de fazer no palco. Então, teatro físico e conversa mínima – ótimo, o que vem a seguir? Adoro trabalhar com objetos, mas muitas vezes não tenho oportunidade. Com minha dupla, ImPresent, Ignacio Grinstein e eu, realizamos um espetáculo improvisado de palhaçaria e teatro físico chamado “Strings” ("Cordas"). Neste espetáculo, nossas personagens palhaças sobem ao palco para uma série de cenas e interações com o público. A maioria das cenas é inspirada por um movimento ou uma música, mas uma cena em cada espetáculo começa com um objeto real que recebemos do público (e deixe-me dizer a você que convencer um público de pessoas improvisadoras no meio do festival, no meio do espetáculo, de que você quer que seu objeto real, em vez de que gritem “um balão de ar quente”, é um grande desafio). “Strings” é nosso principal espetáculo em dupla, usamos dezenas de objetos, muitas vezes criando a cena mais divertida do espetáculo. Usámos um espelho de bolso para mostrar ao público como ele é bonito num espectáculo em Sofia [Bulgária]; um guarda-chuva que choveu (de verdade!) sobre o público em Tel-Aviv; uma caneta que usei para fazer um desenho de Ignacio, pelo qual o público em Istambul brigou mais tarde; e muitos mais. Então, onde eu estava? Queria criar um formato com foco em movimento e objetos. Ótimo! A próxima coisa que me veio à cabeça foi o nome – “Objectified” [“Objetificado”], pois eu queria que fosse orientado a objetos, mas – eu sei, eu sei, não era um bom nome, como uma amiga rapidamente apontou. Ela sugeriu “Lost & Found” em vez disso. Adorei a ideia e tudo se desenrolou a partir daí. Os objetos estavam agora em uma caixa de achados e perdidos em uma estação de trem, com as pessoas que trabalham ali a brincar com os itens esquecidos. Espere, estação de trem? Por que? Francamente, não tenho ideia. Acho que foi inspirado em um espetáculo de teatro com roteiro físico que vi anos atrás, onde as pessoas moravam perto de uma estação de trem e ouviam barulho toda vez que o trem passava. Achei que tinha tudo planejado, imaginando uma antiga estação de trem com pessoas trabalhadoras de colete, a trilha sonora dos trens passando sacudindo pessoas e objetos no palco. Até escrevi a descrição do espetáculo, completa com a estação de trem “última parada”. Empolgada, compartilhei minha ideia com Ignacio. Solidário como sempre, ele gostou, mas perguntou: por que uma estação de trem? É um espetáculo improvisado – por que não deixar o público escolher o local da caixa? Adeus coletes, sons de trilhos e balanços. Abri mais espaço para sugestões do público e mais opções de exploração para nós como pessoas jogadoras. Tudo bem! Agora eu realmente tinha o formato. O público sugere um local - basicamente, qualquer lugar que receba tráfego suficiente para que faça sentido ter uma caixa de achados e perdidos. No palco, vemos as pessoas funcionárias deste local interagirem e criarem sua dinâmica como moldura da história. Embora sejam adultas trabalhadoras, ao abrirem a caixa de achados e perdidos, deixam de lado os problemas diários e brincam com os objetos, criando mundos novos e mágicos. Quem atua interpreta personagens que, por sua vez, brincam de faz de conta. Assim que uma personagem retira um objeto, uma nova cena de objeto começa e qualquer uma das outras personagens pode se juntar a ela. As cenas-objeto estão entrelaçadas na história-moldura, influenciando e sendo influenciadas por ela. Por exemplo, temos uma pessoa que interpreta Roger, um gerente escolar furioso na história-moldura e Roger interpreta um gato solitário na cena do objeto - uma pessoa que interpreta Roger interpretando o gato. Veremos como um homem irritado interpreta um gato solitário, e poderemos vê-lo mudando e se abrindo um pouco, e possivelmente até fazendo referência a isso mais tarde na história. As cenas-objeto não são imaginadas; elas ocorrem no "mundo real" da história-moldura. As personagens da história emoldurada podem ver, participar ou assistir a essas cenas, mas não podem ignorá-las. Mesmo sem uma abordagem direta, elas têm consciência do ocorrido. As cenas de objetos aprimoram e aprofundam o arco da personagem na história-moldura. A história-moldura seria realista e conteria palavras, enquanto as cenas dos objetos seriam silenciosas, sem sentido ou com conversas extremamente estilizadas, desde que mantivessem um sentimento mágico e não realista. As personagens da história emoldurada são humanas, uma atuação naturalista com uma narrativa linear, mas as cenas-objeto podem ser qualquer coisa. Esta distinção é crucial tanto para fins artísticos como para deixar claro ao público se estamos ou não na história-moldura. De volta à minha história. Agora eu tinha um formato que queria dirigir e atuar, e estava procurando o lugar e a oportunidade para fazer isso. E a resposta foi simples – o elenco SANS, em Atenas. Esta foi a terceira vez que me apresentei com o SANS e é sempre um prazer e muita diversão. A primeira vez foi há dois anos, quando visitei Atenas, e nos conectamos por causa do nosso amor mútuo pelo teatro físico. A segunda vez foi em setembro passado, quando o QUAKE, um coletivo de improv em Atenas, me convidou para ministrar um workshop de fim de semana. Após a apresentação de estudantes, juntei-me ao SANS para realizar o formato “Spoiler Alert”. Desde então, tenho procurado oportunidades de me apresentar com ele novamente, e estrear “Lost & Found” me pareceu perfeito. Felizmente, o grupo adorou a ideia e embarcaram nela. Uma vez em Atenas, começamos a ensaiar. Num exercício de ensaio, utilizámos mini monólogos para explorar diferentes papéis e personalidades das personagens trabalhadoras. Esses monólogos transitaram naturalmente para o início do espetáculo, proporcionando clareza tanto para o público quanto para nós, pessoas a improvisar, e abrindo possibilidades para expansão da personagem. Na estreia, uma caixa de achados e perdidos aguardava o público na entrada no local. Pedimos previamente que trouxessem um objeto, então teremos alguns objetos incomuns, e não apenas lenços e chapéus. A caixa foi colocada em um lugar de destaque no palco antes do início do espetáculo, e após as apresentações dos nossos mini monólogos, e depois de basear as relações e situações entre as personagens, começamos a mergulhar na caixa para criar as cenas internas. O espetáculo termina quando todo mundo vai embora e a caixa fica sozinha no palco novamente. Este espetáculo foi realmente uma experiência mágica, cheia de lembranças queridas. Eu me diverti muito rasgando uma página do calendário por dia e marcando o passar dos dias. Mais tarde descobri que este calendário foi colocado na caixa por Elvira Lingris, que também fez um trabalho fantástico como nossa DJ no espetáculo. Obrigada, SANS, e obrigada ao público de Atenas. Nasce um novo espetáculo e mal posso esperar pela próxima oportunidade de apresentá-lo. A caixa de achados e perdidos – uma pilha de itens e sonhos esquecidos. Nós já vimos uma em algum lugar, em uma estação de trem ou em uma biblioteca. Noite após noite, logo após a hora de fechar, quem trabalha ali mergulha nesta caixa misteriosa. Cada descoberta desencadeia uma viagem a mundos imaginários, tecendo histórias cativantes a partir de itens abandonados. Lá se parte em aventuras selvagens, oferecendo uma fuga mágica tanto para as personagens quanto para o público.
IMPROVISAÇÃO É...
por Maja Dekleva Lapajne e Norbert Sven Fö
Este artigo foi escrito por Maja Dekleva Lapajne e Norbert Sven Fö, duas pessoas artistas performáticas que há mais de vinte anos consideram a improvisação como sua principal área de pesquisa e trabalho. A improvisação também é uma de nossas maiores paixões e frustrações. A formação de Maja é baseada na improvisação teatral, enquanto a formação de Norbert se origina na improvisação de dança, embora tenhamos entrelaçado os dois campos de várias maneiras nos últimos anos, adicionando improvisação de palhaçaria e improvisação de som-voz-música à mistura. Desde 2014 colaboramos numa prática performativa e escrita intitulada “Life.Refabricated.”, que se dedica à exploração da improvisação artística. Além dos encontros regulares no palco, estamos lentamente escrevendo um livro com o título provisório “Improvisation, Revolution, Love” (“Improvisação, Revolução, Amor”). Este texto é derivado deste livro em andamento. Ao longo dos anos de trabalho, criação, colaboração, discussão, representação e observação nas áreas do teatro, da dança e da improvisação de palhaçaria, temos testemunhado inúmeras tentativas de definir a improvisação. Testemunhamos o desejo de domar este método irreprimível, este fenômeno, esta forma de arte, este próprio coração de criatividade ou mesmo uma abordagem de visão de mundo para a criação e a existência. O perigo de tentar chegar a uma definição definitiva de improvisação é que podemos ignorar a sua premissa básica – exploração, criatividade, descoberta, invenção, questionamento. Nesta armadilha, as tentativas de revelar mais sobre a improvisação entre mentes criadoras e teóricas tenderam para a eliminação, para falar sobre o que a improvisação não é. Isto permite-nos, antes definir rigidamente a improvisação e assim limitá-la, a deixar um espaço suficientemente amplo para diferentes abordagens e manifestações, ao mesmo tempo que vamos mais longe do que ver a improvisação como quase tudo ou qualquer coisa. Desta vez nós decidimos escrever sobre o que é improvisação. Não é nosso objetivo fornecer uma lista completa de definições, mas revelar que a improvisação abrange uma variedade de coisas e que pode abranger muitas coisas que não consideramos até agora. Cada definição permite-nos utilizá-la, aprender algo novo, abrir novos campos de investigação, ver novos conceitos ou mesmo encontrar novas formas de improvisar. Assim a improvisação não é mais qualquer coisa, é isso e é isso e é isso. Porém, é também algo inimaginável, algo que ainda não foi expresso em palavras, algo que ainda não foi praticado. Cada um dos parágrafos a seguir neste artigo fornecerá uma definição de improvisação. Então, comecemos pela primeira já no final deste parágrafo: a improvisação é algo que está em constante invenção. Parte da constante reinvenção gira em torno da observação contínua do estado dentro de si, do seu entorno, entre si e o seu entorno. Observar o estado de ser significa perceber pensamentos, emoções, distribuição de peso, profundidade da respiração, a arquitetura do local, mudanças na luz, o posicionamento das cadeiras, o rangido do chão, quem está tossindo na plateia, o que trouxemos a esta comunidade temporária, a quantos quilômetros de distância está a decorrer uma guerra, quantas das pessoas dentre nós temos acesso a assistência médica, como está o tempo, quão ansiosas estamos com as alterações climáticas, como percebemos o amor. A situação está em constante mudança e, ao mesmo tempo, observar a situação levanta a questão do que vamos fazer com ela. Isto cria um espaço de emergência, um espaço de invenção, um espaço de renascimento. Improvisar é trabalhar com o que existe. Improvisação é emergência. Improvisar é dar vida a um momento. É compor uma música que emerge da infinidade de sons e silêncios já presentes. É a construção de uma estátua de pedra que sempre existiu, porém, as camadas superiores tiveram que ser removidas para que ficasse evidente. É para exibir o tácito elefante rosa na sala. É adicionar a peça que falta no quebra-cabeça com muita precisão. É realizar gestos cênicos que revelam o que já existe entre nós. É a sensação de que algo está exatamente no lugar certo, que aconteceu exatamente no momento certo. Que na verdade já estava lá, era apenas uma questão de perceber e fazer um pequeno movimento, um gesto preciso, uma mudança de atenção, uma captura rápida de um pensamento, uma abertura suave de um sentimento, uma simples afirmação do óbvio. A improvisação é ajudar o momento a ganhar vida, a revelar-se em todo o seu conteúdo. É uma surpresa e ao mesmo tempo não é nenhuma surpresa. É um reconhecimento. Improvisar é transformar um momento em acontecimento. Um momento se torna acontecimento quando inventa sua documentação. A improvisação é o catalisador do que existe entre nós. Um catalisador permite que reações químicas ocorram sob condições que requerem menos energia do que as mesmas condições exigiriam sem um catalisador. A improvisação é um lugar de atenção redobrada. Esta atenção atrai as situações, temas e espaços envolventes para se juntarem ao campo criado pela improvisação. Um impulso surge dos pequenos toques entre os diferentes espaços, e isso impulsiona toda a situação numa direção onde todos esses espaços estão presentes e conectados ao mesmo tempo. Se isso acontecesse sem improvisação, seria necessário muito mais energia e tempo. A improvisação é um ponto de encontro. Reúne tudo o que está dentro de nós, entre nós e em contato conosco: fragmentos, temas, ideias, acontecimentos, sentimentos, movimentos. A improvisação também detecta e reúne o que trazemos inconscientemente. Reúne e conecta, mas permanece aberta a diferentes formas de conexão, sem encapsular o todo. A improvisação é permeável, continua evoluindo, respira constantemente, está viva. Costumamos falar, escrever e pensar na improvisação como algo insustentável. Honramos o fato de ser viva, de acontecer no momento e de desaparecer no momento seguinte. O fato de ser irrepetível torna-a preciosa. É a sensação de transitoriedade que aumenta o valor inestimável do momento. A improvisação está constantemente morrendo, passando, desaparecendo, em que a vivacidade do momento e da própria vida se destaca ainda mais. Vamos ver o que acontece se afirmarmos o contrário. Improvisação é sustentabilidade. Em primeiro lugar, porque não se pode fingir que as coisas, os acontecimentos ou as vidas se podem repetir. A improvisação não esconde uma transitoriedade sempre presente. E em segundo lugar, porque a improvisação é a transformação de um momento em acontecimento. Improvisar é trabalhar com o que existe e, para isso, precisamos - antes de mais nada - descobrir e reconhecer o que existe. Não se trata de trazer um produto existente de outro lugar e época e inseri-lo em nossas vidas, ignorando o que está aqui e agora. Improvisar é revelar e brincar com o que já existe entre nós. Trata-se de reconhecer o terreno em que estamos e abrir a porta para tudo o que pode crescer a partir dele. Improvisar é dar vida aos momentos, afirmar em voz alta que eles existem. E que existimos. Dessa forma, a improvisação deixa rastros sem fim, tocando e co-criando nossas vidas passageiras e as vidas que ainda estão por vir. A improvisação é irrepetível e cheia de repetição. Algo na improvisação se repete, caso contrário não seria reconhecida como improvisação. Ao mesmo tempo, expande-se e densifica-se através da repetição e, através disso, incrusta-se no tempo. A improvisação alimenta-se da revisitação de espaços, gestos, sons, movimentos, palavras, modos e relações. A cada repetição ganhamos uma visão mais profunda, um campo mais amplo para brincar e novos significados. Ao mesmo tempo, é a repetição que produz a diferença. A repetição nos permite saber que já estivemos em algum lugar antes e que um dia estaremos em outro lugar. Às vezes a improvisação repete aquilo que ainda não foi totalmente processado e executado, aquilo que ainda está inexplorado, aquilo que é potente para a cognição. Visitar novamente é o que faz possível a pergunta “Onde mais?”. A improvisação é o que continua. Improvisação é continuação. Existe uma armadilha em cada movimento e em cada decisão. Assim, há uma armadilha também em escrever afirmativamente sobre improvisação. Escrever afirmativamente sobre a improvisação pode ser visto como uma glorificação da improvisação, um elogio ideológico da improvisação que supostamente infunde toda a vida. Além disso, tal abordagem também pode sugerir que nós que aqui escrevemos somos mestres na improvisação e que cada ato de improvisação que fazemos representa pelo menos uma das afirmações dadas sobre a improvisação. É claro, esse não é o caso. Nossa decisão de escrever afirmativamente vem tanto de inúmeras falhas, vulnerabilidades, inseguranças e dúvidas quanto de experiências maravilhosas, gestos magistrais e fluxos brilhantes. Ela surge de encontros, às vezes extremamente curtos, e outras vezes prolongados, com essas definições de improvisação. A escrita afirmativa cria um polígono no qual as definições podem ser testadas, rejeitadas, confirmadas, contraditas e experimentadas de inúmeras maneiras. Ao experimentá-las, podemos falhar repetidas vezes, falhar cada vez melhor, ou talvez perceber que não precisamos mais delas, ou talvez até encontrar novas definições à medida que praticamos. Improvisação é prática. A improvisação é intangível, mas palpável. Só porque algo não é apreensível não significa que não exista. Você pode jogá-la e saber, você sente, que ela está ali porque você está em contato com ela. Tangível significa que você conhece a coisa na medida em que pode segurá-la, conhece sua forma, seu tamanho geral. A Grid [pegada] é funcional e, como tal, muitas vezes reduz o toque à sua utilidade. A improvisação não pode ser limitada pela funcionalidade, não pode ser instrumentalizada. Se a instrumentalizarmos, ela nos escapa. Ficamos com uma concha vazia nas mãos. Improvisação é nomadismo. Move-se constantemente entre diferentes territórios, mas não pertence a nenhum. Está comprometida com o caminho que cria à medida que se desloca de um território para outro e com a criação do próprio caminho. Um caminho que surge a cada passo sucessivo. Tem uma orientação, mas não tem direção nem objetivo. A orientação determina a direção em qualquer momento, mas a direção e o objetivo não determinam a orientação. A improvisação é a inscrição do nomadismo para a sedimentaridade. A improvisação é um ponto de interrogação no final de cada frase, no final de cada palavra dessa frase, no final de cada letra de cada palavra dessa frase. Cada definição de improvisação também levanta a questão da consistência dessa definição. A improvisação reside num espaço intermédio, no entanto, a definição leva-nos a um fim, mesmo que este seja temporário. A questão de saber se é realmente como afirmamos cria um espaço intermediário, uma suspensão, uma deriva que impulsiona a improvisação. Encaixar-se em categorias e gêneros, reproduzir relações sociais existentes, deter-se em compreensões atuais do mundo – nada disso está perto da improvisação. Improvisar é questionar. Improvisação é resistência. A improvisação resiste à orientação para objetivos, resiste à produtividade. Resiste à realização. E superação. Resiste à perfeição. Resiste à autocracia. Resiste à hierarquia entre os diferentes papéis dentro de uma obra artística – papéis de direção, coreografia, dramaturgia, atuação principal, atuação coadjuvante, performer, autoria. Resiste à hierarquia entre artistas e público e, portanto, à hierarquia social em geral. Ela resiste ao controle. Resiste à obstinação e à compreensão unidimensional da vida. Resiste à censura. Resiste à ordem social existente. Por menor que seja a caixa em que colocamos a improvisação, por mais que tentemos regulá-la com regras, ela criará sempre mini espaços de liberdade e pequenas frestas, através das quais podemos respirar e entrar em contato com outra coisa. Quando nós, as duas pessoas que aqui escrevem, participamos de eventos de improvisação, performances e festivais como performers ou público, admitimos para nós que a maioria das performances não nos toca. Na prática, alcançamos e descompactamos muito pouco do que de outra forma desperta a ideia de improvisação. Muita convencionalidade se insinua nos eventos de improvisação, e quanto mais tentamos nos aventurar na improvisação completamente aberta, mais nos prendemos em hábitos e convenções inquestionáveis. Os eventos de improvisação são muitas vezes tentativas fracassadas e raramente vemos o maravilhoso florescimento do potencial da improvisação. A improvisação é uma utopia. Improvisar é admitir o óbvio. Esta escrita é um diálogo: entre nós que escrevemos, entre nós e o que escrevemos, entre nós que escrevemos e quem nos lê. O diálogo abre um espaço intermediário, no qual as nuances são mais importantes que os extremos. Um espaço onde as coisas ganham significado, são dispostas em camadas, desdobradas, cultivadas, tornadas visíveis. A improvisação é um diálogo. É alimentada por contato e conexões. Este texto é criado em diálogo com vocês, quem nos lê. Agora. A improvisação é um diálogo com o agora. Também incorpora a falta de jeito das nossas tentativas de traduzir jogos de palavras eslovenos relativos à palavra “agora” para inglês. Aqui e agora. Este mesmo gesto. Também estamos em diálogo com a linguagem especializada, que conhecemos como especialistas por experiência, especialistas experienciais. Com o conhecimento adquirido, surge uma linguagem que não é necessariamente uma linguagem academicamente teórica, mas uma linguagem improvisada e teórica. A improvisação é uma teoria do agora e de estar em diálogo com o agora. Improvisação é correspondência. Você escolhe algo como correspondente, uma amizade por correspondência - o mundo, uma co-intérprete, uma amizade, um texto, uma pessoa leitora, e envia uma proposta a esse algo correspondente escolhido. Digamos aqui, agora. Convidamos você, quem nos lê, ao diálogo, convidamos você a observar e questionar as definições de improvisação ora propostas. Improvisação é ternura e provocação. Improvisação é contato. Acontece dentro do espaço entre todas as pessoas envolvidas. Todas as presentes influenciam o andamento da improvisação. O evento improvisado é diferente por causa de cada pessoa que está presente. Improvisação é proximidade. Todas as envolvidas se aproximam à medida que testemunhamos a exploração, o não-saber e a descoberta em conjunto. Pode parecer que às vezes a proximidade está ligada à semelhança. Pode parecer que quanto maior a semelhança, maior a proximidade. Às vezes queremos nos tornar semelhantes às outras para nos aproximarmos, para nos conectarmos, para pertencermos, para não estarmos longe e sós. Mas proximidade não é fusão, não é uniformidade, não é unidade. Proximidade é a proximidade das diferenças. Tudo e todas são bem-vindas na improvisação. Não precisamos estar num determinado estado, nem precisamos de uma certa formação, nem precisamos negligenciar, esconder, silenciar ou deixar de lado uma parte de nós para experimentar uma obra de arte improvisada. A improvisação convida o público a entrar na experiência com todo o seu ser. É construída com todas as nossas particularidades, estranhezas e vulnerabilidades. Aceita todas as partes de nós, as socialmente aceitáveis e as marginalizadas. A improvisação é uma admiração coletiva pelas maravilhas da vida. Improvisação é cocriação e convivência. Improvisação é inclusão. A improvisação acontece na disposição de incluir o que está acontecendo dentro e ao redor de si. Muitas vezes queremos encobrir ou apagar algo. Por exemplo, o medo do palco, o medo da exposição, a vergonha, o momento em que preciso ajustar as calças, a pessoa espectadora insatisfeita saindo da sala, o pensar demais, o desejo de controle, o vazamento de urina quando pulo, o apaixonar-se, a dúvida, o uso de truques comprovados, o fracasso, o canto desafinado, a perda de contato, a desorientação, a paixão. Porém, a improvisação não apaga. A improvisação é inerradicável. Registra tudo e se alimenta de tudo. Até o que queremos esconder, até o que não temos consciência, até o que pretendíamos fazer mas não fizemos. É claro que escrever é diferente de ação ao vivo. Excluímos muitas palavras deste texto, algumas por erros de digitação, algumas porque consideramos que algo não pertence a este texto, outras porque nos censuramos e excluímos partes do texto que consideramos estúpidas, inadequadas ou completamente sem sentido , e algumas porque nós, as duas pessoas que escrevem este texto, discordamos ou porque nos sentíamos vulneráveis. E ainda assim temos a sensação de que tudo o que apagamos ainda existe em algum lugar. A improvisação nos inspira de tal forma que este texto é também uma membrana permeável através da qual quem lê pode vislumbrar o apagado. Costumamos dizer que a improvisação é inevitável na vida. Mas também poderíamos dizer que improvisar é brincar com o inevitável. A improvisação é um processo de trabalho preciso e com detalhes. Quando é meticuloso e atento, os universos se desdobram nos detalhes. Os temas importantes e as situações vibrantes não vêm sabe-se lá de onde, de um cenário completamente externo ou da genialidade de uma única pessoa intérprete. Os detalhes - o sorriso tímido, os passos nervosos, o cheiro de suor cansado, a forma como o público entrou na sala e nos cumprimentou, a expiração prolongada, a cãibra no pescoço, a voz embargada quando uma determinada palavra é dita, a mão movendo-se minimamente no desejo de tocar, o olhar de soslaio - são as portas para os principais temas atuais, se apenas os notarmos e prestarmos atenção. Se conseguirmos explorá-los em câmera lenta. Sem saltar rapidamente de um tema para outro, de uma ideia para outra, de uma ação cênica para algo completamente diferente. Lentamente, e com atenção microscópica, abrimos as pequenas portas do detalhe. Esta desaceleração nos dota de sentimentos, descobertas e insights à velocidade da luz. Quando passamos de um detalhe a outro, criamos um determinado caminho. Esse caminho pode consistir em um salto, pode ser sinuoso, pode ser um viaduto. A transição tem que ser organizada. Ao organizá-la, levamos em conta vários detalhes ao mesmo tempo, suas circunstâncias imediatas, sua percepção pela parceria de palco, pelo público, por quem observa. Também organizamos os meios de transição – podem ser movimento, linguagem, visão, som... A organização do caminho entre os detalhes é chamada improvisação. Improvisação é confiança. Confie em si, confie na sua parceria de palco, confie no seu impulso, sugestão, intuição, situação, sentimentos, confiança no mundo. Tudo isto está enraizado na confiança nas microdecisões. Não existe caminho, não existe meta, mas existe um passo. Um passo como microdecisão que estabelece um caminho e uma orientação. É um passo e quando damos esse passo temos um caminho e também uma orientação. O caminho e a orientação podem mudar na próxima etapa. Mesmo que só um pouco, para uma sutileza intermediária. E caminhamos mais longe. Quando a confiança enfraquece, ajuda se nos perguntarmos: “O que acontece se eu confiar só um pouquinho mais?”, para que nem sempre seja aquela confiança grande e abrangente. Confiança não é esperança. Não se trata de esperar que as coisas aconteçam no improviso. Não se trata de esperar que confiemos em nós. Não se trata de esperar um milagre, embora às vezes a improvisação pareça milagrosa ou mesmo escrever sobre ela pareça místico, quase religioso. Confiança é trabalho. Criar e nutrir um espaço seguro, oferecer apoio, dar tempo, atenção, sensibilidade e compaixão umas às outras, construir um relacionamento, experimentar e explorar, escolher o amor ao invés do medo, ouvir, responder. A esperança está nas mãos de outra pessoa para ser concretizada. A confiança está na nossa. A improvisação é uma resposta viva. Não é apenas reagir. É uma resposta ativa, está sempre vibrando, sentindo, pensando, movimentando, brincando, oferecendo propostas. Alguma coisa está sempre cozinhando no fogão da resposta. Uma reação passiva não é suficiente para a improvisação. A improvisação é uma resposta envolvente e viva. Ao mesmo tempo, isto significa que é necessariamente ativista. A improvisação é uma pausa no acontecimento, uma pausa no mundo. Pode assumir a forma de uma interrupção. Não vamos continuar com essa lógica do mundo. Vamos substituí-la por outra, vamos passar para um mais poética. Improvisar é prender a respiração entre inspirar e expirar. A pausa aparece na forma de uma rachadura. Explosões silenciosas. Quietude. O momento em que prendemos a respiração porque podemos exalá-la em muitas direções. A pausa que nos faz viajar pelo caminho que traçamos. A pausa como uma mudança de atenção para dentro. A pausa como uma mudança de atenção para fora. A pausa como entrada nos mundos paralelos que estão ao nosso lado, dos quais só tomamos consciência quando optamos por fazer uma pausa. Uma pausa não é necessariamente uma parada, uma quietude, também pode ser um grito alto. Uma pausa pode estar flutuando no ar pouco antes de atingir o solo. Uma pausa como uma rendição. Uma pausa como sono e sonhos que são a chave para insights. Improvisar é deixar ir. A improvisação é seguir. Improvisar é perceber e fazer. Improvisar é tratar o erro como um presente. Improvisação é presença. Improvisar é construir de acordo com o plano que se desenrola durante a construção. Improvisar é escutar. Improvisar é escutar para escutar. A improvisação é persistir no estado em que nos encontramos até que ocorra uma mudança de estado nessa persistência. A improvisação morre no momento em que continuamos a persistir no estado em que nos encontramos, mesmo quando sentimos que uma mudança, um impulso para agir, para passar para outro espaço, outro estado, surgiu do espaço criado pela persistência. A improvisação é um distanciamento que não é uma retirada nem uma fuga. Nós nos distanciamos um pouco da situação, nos afastamos dela o suficiente para ainda fazermos parte dela e podermos observá-la ao mesmo tempo. Quando a improvisação se veste de desapego, permite-se dançar com temas que de outra forma seriam difíceis de lidar. Cria uma distância lúdica que realmente nos permite ir mais fundo, mais longe e mais perto. É como se estivéssemos tratando de um tema quente e segurando-o com luvas de distância que isolam o calor apenas o suficiente para podermos brincar com ele. Esses temas quentes tendem a nos tocar pessoalmente e também são urgentes em nossa vida privada. Se o privado e o pessoal permanecerem indistinguivelmente fundidos, a performance torna-se terapia. Porém, na improvisação artística, abrimos o pessoal como uma grande fonte de material e o processamos performativamente. Colocamos a luva da distância para tocar mais facilmente o pessoal e refabricá-lo no amplamente acessível, no universal. A improvisação é uma prática de desapego e também uma conexão devotada com a situação. Recebemos uma oferta, um impulso, uma sugestão da parceria improvisadora. Abordamo-la por vários lados, saboreando-a, cheirando-a, olhando-a. Depois observamos o percurso do impulso recebido garganta abaixo. Talvez fique preso na traquéia e nós o tossimos. Caso contrário, vai mais fundo no estômago, as primeiras observações já se materializam, o impulso parcialmente processado já se transmite, devolvendo novas sugestões à parceria improvisadora. O impulso continua seu caminho até os intestinos, serpenteando, fluindo, borbulhando, emperrando, emitindo substâncias, enquanto continuamos a chamar a atenção de nossa parceria de palco para nossas observações. O impulso passa para a parte final do processamento, onde se produz fertilizante e não resíduos. Improvisação é processamento. É um processo e é um produto. Improvisar é mergulhar no infinito. A improvisação abre um espaço de infinitas possibilidades para o próximo passo. Muitas vezes isso pode ser insuportável. Já é muito se percebermos o nosso (des)conforto nesse aspecto. É muito aceitar que ao escolher uma, duas, talvez três opções, abrimos mão de todo o resto. É muito nos abrirmos às novas possibilidades que a escolha traz. A improvisação é uma viagem entre o finito e o infinito. Só podemos tocar o infinito afastando-nos do finito e retornando a ele. Lançamo-nos em órbita com um foguete/agulha de costura e uma linha, superando temporariamente a gravidade das circunstâncias e tecendo a agulha de costura em uma, duas ou três possibilidades, que aumentam à medida que a gravidade diminui. E então voltamos ao conhecido e ao finito, enriquecendo-o com um fio que tocou outra coisa, algo diferente, um fio que tocou o infinito. Improvisar é costurar o finito e o infinito. A improvisação é a incorporação de um universo em outro. A improvisação é um caminho conhecido, mas não para nós hoje. Improvisar é aventurar-se no desconhecido. A improvisação é explorar o desconhecido para torná-lo conhecido. A improvisação é uma exploração detalhada do conhecido para que ele se torne desconhecido. Improvisar é jogar com o conhecido e o desconhecido. A improvisação é uma prática em que enfrentamos o desconhecido. Até o desconhecido mais familiar é a morte. Como é assustador não saber. Como é assustador não saber para onde estamos indo. Está cheio de ansiedade e ainda assim vivemos isso todos os dias. Não saber equivale a viver. E para onde vamos quando improvisamos? Nós estamos indo... aqui. Para chegar onde estamos. Estar presente onde estamos e como estamos. Sentir, experimentar, ver, ouvir onde realmente estamos. Estar com tudo o que somos, sem exclusividade, sem pretensão, sem esconderijo, talvez com esconderijo consciente, sem enfeites e roupas, talvez com enfeites completos que extraiam a essência do momento. Em esloveno, “aqui” e “sou” são a mesma palavra. O “aqui” espacial e o “sou” como onde eu sou. Estou aqui, eu existo. Eu não serei para sempre. Mas agora estou viva! A improvisação é uma questão: o que mais é improvisação? Este artigo foi publicado originalmente em esloveno em dezembro de 2023 na 59ª edição da revista “Dialogi” em Maribor, Eslovênia. Editora desta edição do “Dialogi”: Jasmina Založnik Autorias do artigo: Maja Dekleva Lapajne, Norbert Sven Fö Tradução para inglês: Maja Dekleva Lapajne, Norbert Sven Fö Revisão: Sunčan Stone Tradução para o português: Luana Proença
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ALGUMA VEZ VOCÊ JÁ SE PERGUNTOU SE…?
Por Pamela Iturra (impro.lectora@gmail.com)
Há coisas que não vemos, embora estejam bem diante dos nossos olhos, porque sempre estiveram lá. Há questões que simplesmente não nos colocamos e, quando colocadas de fora, abrem um importante espaço de reflexão e auto-exame, um espaço social e político. Nas palavras de Boal, “todo teatro é necessariamente político, porque todas as atividades humanas são políticas, e o teatro é uma delas”. Assim como o teatro provoca, a literatura provoca; e este livro fá-lo com uma intenção clara: melhorar os espaços de aprendizagem da impro a partir de uma perspectiva de gênero e de justiça social.
HOJE ANALISAMOS
“Alguma vez você já se perguntou se…? Perguntas para docência de Impro”, pelo Laboratório Pedagógico Feminista La Otra Escena.
PROL - CROW*
La Otra Escena é um laboratório pedagógico de improvisadoras de diversas origens (Argentina, Brasil, Costa Rica, Espanha, França e Peru) que se reuniram para revisar e refletir sobre as práticas de docentes de impro em termos de diversidade, equidade e perspectiva de gênero na sala de aula. O livro apresenta 12 improvisadoras como autoras, uma ilustradora e uma designer.
*[Nota da Tradução] PROL - anacronismo para: Personagem; Relação; Objetivo; Lugar. Em Inglês: CROW: Character; Relation; Objective; Where/When
STATUS
Este livro é uma ferramenta pedagógica que convida à reflexão individual e coletiva sobre o ensino da impro a partir de uma abordagem baseada em direitos. Seus capítulos apresentam diversas questões que desafiam quem lê a refletir sobre suas próprias práticas e as do seu entorno. Nessa perspectiva, o livro é um convite para que cada pessoa leitora escreva a sua própria versão do texto, respondendo às questões colocadas e desenvolvendo uma autocrítica cada vez mais profunda e detalhada. Assim, este escrito é também um guia para melhorar as salas de aula para o bem-estar geral de todo mundo; e contribuir para as transformações sociais através da prática da impro. Recomendo lê-lo em grupos, discuti-lo, trabalhar nisso com sua comunidade; é aqui que reside o seu verdadeiro valor.
FORMATO
O texto é composto principalmente por perguntas e ilustrações, dividido nos seguintes temas:
Linguagem Inclusiva
Desconstrução e Humor
Paridade, Diversidade e Acessibilidade
Dinâmica de equipe
Espaço Seguro
Conceito de Aceitação
Metodologia da Equipe Docente
Sobre suas Referências
Alguma vez você já se perguntou o que é...? (Glossário)
ALGUMAS PERGUNTAS CHAVES:
Linguagem Inclusiva
- Você usa uma linguagem inclusiva durante as aulas?
- O que a linguagem que você usa inclui: masculino e feminino, apenas feminino, não binário, neutralidade de gênero, outra opção?
- Você sabe por que usa ou não essa linguagem?
Desconstrução e Humor
- Você questiona e analisa seu nível de sexismo, racismo, capacitismo e discriminação “em geral”, dentro e fora do palco?
- Você avalia o que você ri dentro e fora do palco?
- Você transmite esse questionamento em sala de aula?
Paridade, Diversidade e Acessibilidade
- Você sente satisfação com seu nível de conhecimento e preparação em relação à diversidade sexual, cultural e emocional? E o da sua escola?
- Você acha que as cenas criadas em aula representam personagens que refletem a diversidade sexual, cultural e funcional? Se a resposta for sim, você considera que elas são representadas de forma respeitosa?
Espaço Seguro
- Você acha que a aula é um espaço seguro, atencioso e livre de julgamentos para todas as pessoas envolvidas? Em que você baseia isso?
- Existe um espaço privado fora da aula onde participantes possam abordar a equipa docente para discutir coisas que não podem ou não querem no contexto de grupo?
Conceito de Aceitação
- O que o conceito de aceitação na impro significa para você?
- Você reflete sobre o conceito de aceitação em relação ao conceito de consentimento?
- O que você faz quando detecta que os limites de consentimento de alguém foram ultrapassados?
Metodologia da Equipe Docente
- Qual é a sua abordagem como docente quando uma cena reflete estereótipos sexistas, racistas, xenófobos, homofóbicos ou discriminatórios em geral?
- Você, como docente ou escola, consulta outras pessoas: colegas de profissão que pensam como você, profissionais da instituição onde está, etc., sobre suas práticas e/ou situações específicas em sala de aula? Com que frequência?
CITAÇÕES DO GLOSSÁRIO FINAL “podemos supor que falamos de diversidades ou minorias quando nos referimos a grupos de pessoas cujas necessidades, desejos e expressões não são levados em consideração, sendo demonizados, punidos, tornados invisíveis e condenados."
"Celebrar a diversidade é reconhecer e afirmar que a diversidade não é algo externo a nós, mas algo que compartilhamos e que nos torna pessoas únicas e valiosas. Essa diversidade, em vez de nos separar, nos une."
" Os espaços não são nossos a priori e cabe a quem tem o privilégio de facilmente acessá-los prestar atenção não para entender a inclusão como uma contribuição ou uma concessão a pessoas menos privilegiadas, mas como o reconhecimento de que o espaço é de todo mundo por igual. "Impro Feminista: É aquela que se propõe a questionar as histórias e as dinâmicas patriarcais, tanto dentro como fora dela. Implica uma desconstrução a nível pessoal e interno da obra, pelo que não consiste apenas no fato de o elenco ser feminino, parcial ou na sua totalidade, nem em tratar os feminismos como tema, mas sim como perspectiva, visto que nada disso garante uma desconstrução nem uma consciência feminista. É um trabalho permanente, individual e coletivo, de revisão e atualização constante que busca dar conta do discurso que se comunica" Disponível em português e gratuitamente em: https://ba7cd4a5-f35e-489a-8ee7-136984948e72.filesusr.com/ugd/2225c6_373cac91e0e04876991d64544b631c7b.pdf
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UMA LISTA DE COISAS QUE ME FIZERAM PARAR DE ME PREOCUPAR E ADORAR A IMPROV NARRATIVA
por Chris Mead
Oi. Meu nome é Chris Mead. Que toda a gente seja muito bem vinda às minhas listas de improv. Algumas serão úteis. Algumas serão bobas. A deste mês é útil (eu acho). Eu costumava odiar improv narrativa. Agora eu adoro. O que mudou? Simples. Desenvolvi uma lista de comportamentos que tornavam contar uma história infinitamente mais agradável.
- Dê a si um desejo. Perto do início do espetáculo, indique claramente o que sua personagem quer - posso ser uma humilde zeladora neste parque temático, mas um dia quero ser a operadora da maior atração que temos - O Monstro do Espaguete!
- Use especificações. Você notou que a montanha-russa se chama ****O Monstro do Espaguete? Divertido, certo? As especificações adicionam textura, um verdadeiro senso de lugar e identidade. Aí está uma erva narrativa bem à vista.
- Defina seu relacionamento com sua parceria de cena. Deixe o público saber o que vocês sentem uma personagem pela outra. Conheçam-se desde o início e se vocês definitivamente precisam se encontrar pela primeira vez, assuma uma conexão instantânea. Freqüentemente, essa conexão emocional é narrativamente muito mais produtiva do que qualquer discussão intelectual sobre pontos da trama.
- Racione os movimentos do enredo. Imagine que cada cena só tem espaço para uma revelação do enredo ou movimento da história. O resto da cena deve ser preenchido com interação das personagens ou um jogo divertido. Coma as verduras do seu terreno e depois é só JOGAR.
- Encene sua cena climática no ponto médio. Em uma estrutura de cinco atos, o clímax é o terceiro ato. O Ato Quatro são reações a esse clímax e o Ato Cinco é o novo status quo – como suas personagens avançam e crescem a partir desse ponto de inflexão? Portanto, não tenha medo de atingir seus objetivos no início da narrativa. Então veja o que acontece a seguir.
- Faça a coisa! Este é essencialmente o mesmo ponto: não fale sobre fazer a coisa, não formule um plano de ação para fazer a coisa ou debata interminavelmente a logística da coisa que você está prestes a fazer. FAÇA A COISA! PONTO DE BÔNUS: A coisa pode ser o próximo passo óbvio, não sinta a necessidade de surpreender ou enganar o público a cada passo.
- Mostre, não conte. Na mesma linha, não fale conosco sobre o relacionamento de uma personagem, mostre-nos. Então, em vez de dizer que eu realmente valorizo o conselho que você me dá, mãe, você é tão sábia, basta fazer uma cena em que sua mãe lhe dá alguns bons conselhos.
- Ouça o tempo todo, esteja você no palco ou não. Nunca desligue. Qualquer coisa dita no palco pode ser o fulcro em torno do qual gira toda a narrativa.
- Você não precisa encenar todas as grandes sequências de ação. Shakespeare colocou a maioria de suas batalhas fora do palco, então você não precisa realmente mostrar aquele concurso climático de comer tortas - apenas mostrar o impacto que isso tem em suas personagens.
- Se você for sofrer a acusação de alguma coisa, aceite imediatamente. Não tente negar ou dê uma desculpa, a diversão começa quando você diz que as outras pessoas estão certas e então (percebendo um tema?) veja o que acontece a seguir. Você está certa, Fui espião da sua concorrente esse tempo todo. Mas isso não significa que eu não te amo.
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