Com a autorização da revista internacional de improviso Status, Luana Proença e Davi Salazar traduzem e gravam em português o conteúdo mensal da revista.
SIM, existe uma revista mensal sobre Impro que questiona e valoriza o que fazemos, E seu conteúdo é disponibilizado em português AQUI por escrito, e em áudio em nosso PODCAST no Spotify: Revista Status - PT.
A revista STATUS é publicada mensalmente e virtualmente em espanhol, inglês, italiano e francês. Informações e assinaturas: https://www.statusrevista.com/.
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OPINIÃO
BRINQUE COMO UMA CRIANÇA, TRABALHE COMO UMA PESSOA ADULTA
por Feña Ortalli
Quase sempre que pergunto às pessoas o que elas gostam na impro, há pelo menos uma pessoa que responde: "porque me permite brincar como quando eu era criança".
E essa sensação é simplesmente incrível. É uma maneira de suspender as leis do mundo adulto e desfrutar de algumas horas de pura diversão.
Quando o tempo passa e nos tornamos mais experientes nessa profissão, é mais difícil tentar reproduzir essa sensação. Porque, nesse caso, não se trata apenas de brincar, mas também de trabalhar.
Mas uma coisa não precisa bloquear a outra. Na verdade, elas devem se alimentar.
Brinque como uma criança e se perca, trabalhe como uma pessoa adulta para ouvir as outras.
Brinque como uma criança e libere suas inibições, trabalhe como uma adulta para identificar os limites.
Brinque como uma criança e se divirta, trabalhe como uma adulta para garantir que o público também se divirta.
Brinque como uma criança e invente mundos fantásticos, trabalhe como uma adulta para encontrar e seguir uma lógica.
Brinque como uma criança e relaxe no palco, trabalhe como uma adulta para ficar de olho na estrutura.
Brinque como uma criança e diga sim, trabalhe como uma adulta para entender quando você deve dizer não.
Brinque como uma criança, trabalhe como uma pessoa adulta.
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BIO
EURÍPEDES
por Feña Ortalli
Eurípides (c. 484 a.C. - 406 a.C.) foi um dos três grandes trágicos da Atenas clássica, ao lado de Ésquilo e Sófocles.
Nascido na Ilha de Salamina, era filho de Mnesarchus e Cleito. Suas peças sugerem que ele recebeu uma educação abrangente, estudando com filósofos como Anaxágoras e Pródico.
Eurípides começou a competir no festival Cidade Dionísica de Atenas em 455 a.C., obtendo sua primeira vitória em 441 a.C. Ao longo de sua carreira, ele participou de 22 competições, vencendo apenas cinco vezes, com uma vitória póstuma. Apesar dos elogios limitados durante sua vida, suas obras ganharam destaque postumamente, levando à preservação de mais peças suas do que de seus contemporâneos.
Eurípides é conhecido por sua abordagem inovadora da tragédia, retratando personagens heróicas míticas como indivíduos comuns que enfrentam circunstâncias extraordinárias. Essa humanização das personagens e a exploração da profundidade psicológica distinguiram sua obra. Ele frequentemente destacava a situação de grupos marginalizados, incluindo mulheres, pessoas escravizadas e estrangeiras, desafiando as normas sociais.
Entre suas peças notáveis estão "Medéia" (431 a.C.), "Hipólito" (428 a.C.), "Electra", "As Mulheres de Troia" e "As Bacantes" (405 a.C.). Essas obras abordam temas como vingança, paixão e a condição humana, muitas vezes apresentando uma visão sombria da vida. Aristóteles se referiu a Eurípedes como "o mais trágico dos poetas" por seu retrato inabalável do sofrimento humano.
Os contemporâneos de Eurípides frequentemente o ridicularizavam por seu intelectualismo e impiedade. O dramaturgo cômico Aristófanes o satirizou em peças como "As Rãs", descrevendo-o como um dramaturgo inteligente, mas menos sábio do que Ésquilo. Apesar dessas críticas, a influência de Eurípides perdurou, moldando a trajetória do drama e da literatura.
Em seus últimos anos, diz-se que Eurípides se mudou para a corte do rei Arquelau, na Macedônia, onde morreu em 406 a.C. Embora alguns relatos sugiram que ele buscou o exílio, os estudos modernos questionam essas narrativas. Seu legado persiste, com suas obras continuando a ser estudadas e representadas, refletindo o poder duradouro de sua exploração da psique humana.
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ENTREVISTA
VIVIANNE EGGERS
por Feña Ortalli
Um dos pontos mais fracos de quem improvisa é a falta de consciência corporal. É por isso que, quando vemos alguém como Vivianne se movendo pelo palco, nós vemos outras maneiras de improvisar, onde o corpo é tão importante quanto o cérebro.
Primeira pergunta, Viv: O que você lembra da primeira vez que improvisou no palco?
Adorei a liberdade que isso me proporcionou! Era muito divertido e eu tinha espaço para dizer e compartilhar coisas - deixar as coisas sairem. Eu podia colocar meus temas e emoções no palco. Eu tinha 16 ou 17 anos de idade.
E quais eram as coisas que você queria dizer e compartilhar?
Eu tinha muita energia, mas não sabia como lidar com ela naquela idade. Eu estava absolutamente vivendo as "lutas da adolescência" - tudo era intenso, forte e importante. Acho que principalmente do meu ponto de vista.
Eu tinha medo de não ser vista... Eu não queria me encaixar nas gavetas típicas. No palco de improv, eu não precisava fazer isso - se é que isso faz sentido.
E agora? O que você quer compartilhar quando sobe ao palco?
Diferentes pontos de vista! Assim como a vida cotidiana e seus desafios - como até mesmo pequenas decisões podem ser difíceis às vezes. Na melhor das hipóteses, envolver o público quando ele começa a julgar uma personagem, apenas para perceber o quanto a situação ou a vida dessa personagem se aproxima da sua própria. Que não existe preto e branco.
Quero - e adoraria - comover o público. Quero criar momentos tocantes, abrir a porta para discussões.
Regularmente, eu me pergunto: Como devemos usar um palco? As pessoas estão nos ouvindo - o que podemos dizer a elas? É claro que não consigo fazer isso em todos os espetáculos, mas acho que é importante perguntar: O que você quer dizer, compartilhar...?
Trabalhei por um tempo em um "Landestheater" e pensei que, sendo atriz, eu poderia mudar o mundo! Lá só apresentavam as peças que eram fáceis de vender - na maioria das vezes, engraçadas. Mas, três anos depois, assisti a um espetáculo de improv e, dez minutos depois, ainda tinha lágrimas nos olhos. E... sim.
Existem diferentes maneiras, mas mostrar personagens femininas fortes e independentes pode ser um começo em cidades pequenas, etc. Desculpe se isso soa hilário. Hoje em dia, isso deveria ser a norma, mas não é em todos os lugares.
É verdade que, na maioria das vezes, a impro é muito semelhante em todos os países. Mas como você definiria a improvisação alemã? Tanto a maneira de improvisar quanto a comunidade
O estilo... uhhh, uma pergunta perigosa. Mas, do meu ponto de vista, as pessoas alemãs são muito apaixonadas pela linguagem - pela palavra falada. Elas definem muito pelas palavras faladas, portanto, no palco de improv, é um pouco a mesma coisa. Elas falam muito e, às vezes, esquecem o corpo :) Elas podem criar belas falas, mas algumas de nós poderiam se concentrar mais em nosso maior instrumento: o corpo.
A comunidade é adorável. Sinto que, por um tempo, na Alemanha, era muito importante ficar em sua bolha, seu grupo, seu... círculo. Mas, aos poucos, uma nova geração está surgindo - liderando grupos, escolas de teatro, construindo lugares maravilhosos e sendo mais aberta. Elas convidam mais umas às outras; há mais trocas acontecendo.
Como VOCÊ usa seu corpo ao improvisar?
Há muitas maneiras... Desde a mímica (respeite o que você instala - e o de todas as outras pessoas), até o uso de todo o palco com consciência, até a busca de um momento "uau" (:D). E o que vocês já estão dizendo por meio de seus corpos? #nowordsneeded (#semnecessidadedepalavras)
Se você pode fazer coisas malucas, onde elas se encaixam? E criar formatos/espetáculos em que você possa incorporar atividades que adora.
Vi um desses espetáculos inspirados em “Kill Bill” no Festival ImproAmsterdam junto com Felipe Ortiz. Como surgiu isso?
Nós dois fizemos e ainda fazemos diferentes tipos de artes marciais. Eu, por exemplo, fiz cinco anos de Kung Fu e até fui para a China para fazer isso. Eu e ele adoramos acrobacias, luta de palco... e Quentin Tarantino!
Por isso, assistimos e analisamos muitos de seus filmes. O que nos fascinou - ou o que é um grande tema em seu trabalho - é a vingança. Então começamos a trabalhar... e adoramos!
Nós "apenas" montamos o que amamos! E cada espetáculo é uma grande festa para nós!
Primeiro, todo o trabalho corporal. Mas também explorando como criamos personagens "más" que matam ou arrasam - mas ainda assim você simpatiza com elas.
"A vingança é um prato que deve ser servido frio"
A vingança é uma atitude muito interessante dos seres humanos! Ela pode abrir a porta para uma conversa profunda - quando você julga as pessoas? Quando é aceitável fazer coisas ruins? Quais circunstâncias moldam seus sentimentos? Quando você deixa de se preocupar com seus "limites" normais?
Que outros espetáculos você já desenvolveu em que o foco principal é o corpo?
Há também “Lost Trace”, em que nós, duas pessoas a improvisar, saltamos entre 5 e 10 personagens. A base é uma história de crime à la Agatha Christie, mas é muito importante oferecer figuras claras e distintas por meio do corpo.
Há também um formato que criei apenas com as colegas mulheres de minha companhia: “Bereit für Ekstase” (“Prontas para o Êxtase”). Os impulsos da cena são criados por nossos corpos e pela cinestesia das jogadoras.
E quanto ao ensino? O que você mais gosta em ser professora? O que você não gosta tanto?
Adoro poder dar um "presente" às pessoas com isso. Alguns exercícios são muito mais do que apenas para o palco! Adotar o contato visual "real" - quando elas percebem como é bonito ser abertas e positivas! Compartilhar os métodos e as técnicas de improv é, às vezes, também trabalhar em prol de um mundo melhor. Uhhh, isso pode parecer muito patético, mas às vezes é verdade.
Na minha escola de Kung Fu, era muito importante cuidar das outras pessoas - elas ainda têm água no copo? É assim que vejo isso no palco de improv também!
Para mim, improv é apoio - apoiem umas às outras, cuidem delas, deixem-nas brilhar.
Também é maravilhoso quando artistas usam de coragem, entram no palco sem nada, agem com autenticidade em circunstâncias irreais e, de repente, a mágica acontece. #loveit (#amoisso)
Eu sempre tento ser tão aberta e vulnerável quanto incentivo estudantes a serem para um trabalho específico (se for uma aula avançada, por exemplo). A confiança e o amor que estamos dispostas a compartilhar é algo muito especial.
Tenho o prazer de trabalhar com estudantes por um longo tempo. Algumas pessoas, por exemplo, tinham uma forte falta de confiança e, por meio da improv... fizeram um progresso incrível tanto na improv quanto na vida.
Você é a diretora de um festival internacional (Törn). Por que você acha que os festivais são importantes para o desenvolvimento da improvisação?
Bem, há muitos festivais novamente. Por isso, às vezes eu me pergunto: É realmente necessário mais um? Para mim, essa pergunta tem duas partes!
Primeiro, para o desenvolvimento da improv - para compartilhar, para ver outras abordagens, para explorar! Eu cresci (como improvisadora) em uma bolha de improv forte e específica. Imagine se eu nunca tivesse visto outros estilos?
O "bom" é que, se você não sabe o que não sabe, está tudo bem. Mas a inspiração cresce por meio de trocas e cores diferentes, não é mesmo?
Para discutir! Para criarmos em conjunto - com diferentes experiências - um projeto ainda mais rico. Para nos apoiarmos mutuamente com plataformas, ideias, palcos, pessoas, e mais!
E, como diretora do Törn Festival, convidar as pessoas para esta bela cidade! [;)]
E para dar ao "meu pessoal" aqui a oportunidade de conhecer outros pensamentos e estilos de improv - para que possam sair de sua "bolha de improv".
Ufff, e há muitos outros motivos, Feña.
Falamos uma vez sobre festivais, e não se trata absolutamente (infelizmente, até agora [;)]) de ganhar dinheiro. Mas é um prazer reunir pessoas criativas e coloridas.
Além dos festivais, há outros projetos que compartilham esse espírito de troca, compartilhamento e aprendizado. E um deles é o Impro Spirit Retreat (Retiro Impro Espiritual). O que você pode nos dizer sobre ele?
Uhhhh, é muito emocionante! Está acontecendo em um dos locais mais bonitos em que já estive. De verdade, é um lugar mágico, com uma energia incrível! Em Barichara, Colômbia!
É uma aventura de 10 dias, que vai de 14 a 24 de outubro de 2025. Faremos uma parada para passar a noite em uma bela cidadezinha chamada Villa de Leyva (uma parada turística) e depois seguiremos para Barichara. Oito minutos mais adiante, nas montanhas, fica nossa casa principal - um lugar mágico.
Antes de tudo, eu queria compartilhar esse lugar com outras pessoas. Mas, muito rapidamente, ele se tornou muito mais do que apenas um "encontro de improv".
Teremos ótimas aulas de improv, ministradas por Inbal Lori, Felipe Ortiz e por mim. Mas também um programa paralelo incrível totalmente voltado para o objetivo principal do retiro: liberar a criatividade em um sentido mais profundo. Cada participante pode se concentrar em sua própria jornada. Ao mesmo tempo, podem compartilhar seu processo e se conectar com outras pessoas artistas internacionais.
Haverá uma sessão de cura sonora projetada especificamente para o retiro, juntamente com uma caminhada de meditação e outras atividades destinadas a aprofundar a conexão com a criatividade - em combinação com o poder de cura da natureza e o fogo da cultura colombiana. Também será um ritual "In Naha", que ajudará os participantes a reconhecer possíveis bloqueios ou obstáculos que estejam impedindo o acesso a todo o seu potencial criativo.
Uma aula de salsa e uma sessão de culinária colombiana oferecerão um gostinho da cultura local, enquanto uma aula aberta em um teatro no meio da selva proporcionará uma oportunidade de retribuir à comunidade local.
Todo mundo deve ter uma experiência calma e relaxada. Sessões de ioga com tambor estarão disponíveis pela manhã para quem desejar participar - sem pressão.
Eu queria criar um pacote muito especial - uma aventura em que as pessoas pudessem descobrir mais, em paz e magia. Não há pressão, apenas inspiração, intercâmbio cultural, um toque de orientação espiritual, poderosos impulsos de improv, boa comida, uma acomodação incrível e um grupo de pessoas adoráveis e criativas. A experiência será inesquecível e poderá até servir de inspiração para futuros trabalhos artísticos.
Por que você improvisa?
Isso me faz sentir viva. Adoro poder criar histórias maravilhosas com pessoas que eu não conhecia antes.
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IMPROLISTAS
ALÉM DE “QUEM? O QUÊ? ONDE?”
Chris Mead (hello@chrismead.co)
Classicamente, ao iniciar uma cena de improv, é necessário estabelecer o seguinte: quem você é, onde está e o que está fazendo. Isso às vezes é chamado de construir a plataforma da cena.
A sabedoria convencional sustenta que o público não pode relaxar de verdade e desfrutar de uma cena improvisada até que as pessoas artistas tenham respondido a essas perguntas.
Quem?
Quem são as personagens da cena? E, tão importante quanto isso, quem são elas umas para as outras?
O quê?
O que as personagens estão fazendo na cena? E talvez também, sobre o que a cena realmente se trata?
Onde?
Onde a cena está localizada - pode ser geograficamente (Espanha!) ou mais especificamente (um laboratório!) ou até mesmo ambos (um laboratório na Espanha!).
Esses são os componentes tradicionais de uma plataforma, mas é um fato pouco conhecido que, na realidade, há muito mais perguntas que precisam ser respondidas para que o público de improv aprecie seu trabalho de cena. Da próxima vez que você estiver no palco, tente responder também às seguintes perguntas:
Quando?
Quando a cena está ocorrendo? Ela se passa em um momento contemporâneo ou em um passado distante? Talvez até no futuro? Isso é importante para quem atua, para que saiba que vocabulário usar e que penteado sua personagem tem.
Se?
Essa é uma técnica que ficou famosa por Stanislavsky e às vezes é chamada de "Se Mágico". Essencialmente, quem atua se pergunta: "Se eu fosse essa personagem e tivesse tido todas as experiências que ela teve, se tudo isso fosse verdade, o que eu faria honestamente neste momento?”. Então, para colocar isso em um contexto de improvisação comumente sugerido - se eu realmente fosse uma profissional do sexo em um Filme Noir, e se eu honestamente não conseguisse parar de peidar, o que eu faria com esse abacaxi?
Como?
Como está indo a cena? Está indo bem? Poderia ser mais engraçada?
Por quê?
Por que você está fazendo a cena? Quero dizer, realmente, POR QUÊ? Talvez seus pais estivessem certos? Talvez você devesse ter se formado em Ciência da Computação em vez de perder seu tempo fazendo papel de bobo na frente de pessoas com empregos reais?
Quanto?
Quanto valeria essa cena se fosse transcrita em um roteiro e vendida a uma grande produtora de Hollywood? E se ela rendesse £1.000.000? Você ficaria orgulhosa de mim, mamãe? VOCÊ FICARIA?
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IMPROMUNDO
VARIAÇÕES SOBRE…
por Omar Galván
Para este artigo, pedimos ao nosso amigo Omar Galván que entrevistasse Romina Coccio e Angélica Rogel para que elas pudessem falar sobre seu novo espetáculo chamado “Variaciones sobre…” (“Variações sobre…”)
STATUS: Você está prestes a embarcar em uma turnê por Madri, Barcelona e Valladolid com essa nova produção original.
ANGÉLICA: Bem, para falar sobre “Variaciones sobre…”, temos que voltar muitos anos atrás, quando Romina e eu nos conhecemos. Isso aconteceu quando Romina veio ao México acompanhando “Sucesos Argentinos” na "Primeira Copa do Mundo de Improvisação". Se não me engano - Romina pode me corrigir - ela gostou do México e veio morar aqui por um período indefinido, e ficou...
ROMINA: Vinte anos.
ANGÉLICA: Durante esses vinte anos, Romina e eu nos cruzamos teatralmente várias vezes em diversos formatos, inclusive no teatro, e tivemos a curiosidade de explorar a improv sob a perspectiva do texto dramático...
ROMINA: Sim. A verdade é que estamos flertando com a ideia de trabalharmos juntas sozinhas - ou seja, sem mais ninguém - vários anos. Mas, por um motivo ou outro, outros projetos, tempo, etc., isso não se concretizou até agosto de 2024, quando começamos esses ensaios iniciais - ou encontros - para formar “Variaciones sobre…”, que finalmente estreou em março deste ano. A premissa é que cada apresentação começa com um texto dramático.
STATUS: O público escolhe o texto ou são vocês quem escolhem?
ANGÉLICA: Pensamos em várias maneiras de abordar esse assunto. Desde trazer várias obras dramáticas e deixar que o público escolha, ou se o espaço puder ter livros à disposição, podemos escolher um livro e tirar algo de lá. Também estamos ansiosas para experimentar uma peça que ambas conhecemos há anos, algo famoso como “Um Bonde Chamado Desejo”, por exemplo. Também brincamos com a ideia - como atrizes - de abordar peças para as quais talvez nunca sejamos convidadas a atuar... Como “Um Bonde Chamado Desejo”. Se a chance de atuar nessa peça nunca surgir, a menos que eu decida encená-la eu mesma - e se eu tiver vontade de interpretar Stella, bem, eu já fiz isso!
Portanto, essa também é uma oportunidade de reescrever peças, apresentá-las, improvisar com elas e criar uma variação da peça escolhida para aquele dia. Podemos trazer uma peça que já conhecemos e decidir brincar com ela, ou ela pode chegar até nós completamente desconhecida - reconhecível se já a tivermos visto antes, ou totalmente nova para nós, que então poderemos descobrir.
ROMINA: Sim, a ideia é trabalhar com peças que apresentem duas ou mais personagens. Também gostamos do aspecto de nos descobrirmos diante de uma peça desconhecida, explorando como podemos abordá-la. Ou simplesmente dizer: "Eu, Romina, tenho vontade de atuar nessa peça e interpretar essa personagem específica", e então Angélica interpreta as demais personagens. Também se trata de satisfazer os caprichos pessoais no palco.
STATUS: É uma proposta muito voltada para a atriz. Você acha que isso é um diferencial em relação a outras abordagens de improvisação, que podem se inclinar mais para a diversão ou para uma estrutura menos teatral? Em outras palavras, como atrizes e diretoras, isso as ajudou a descobrir um aspecto da improv que não foi tocado em outras produções ou vocês simplesmente adaptaram o que costumam fazer na improvisação?
ROMINA: Acho que também se trata de encontrar esse novo espaço dentro da improv depois de tantos anos fazendo isso de diferentes maneiras, em várias produções, com diferentes pessoas, etc. Acredito que também há essa curiosidade para descobrir qual é a nossa linguagem compartilhada - a da Angélica e a minha - na improv de hoje. O que queremos fazer em relação à improvisação, à técnica em si, nesta fase de nossas vidas e carreiras? E acho que essa produção nos permite mergulhar nessa exploração e profundidade, que vem do fato de sermos atrizes e também improvisadoras.
ANGÉLICA: E toca em algo que também é muito novo para mim, que é dividir o palco exclusivamente com outra mulher. Acho que isso se deve ao fato de que, nos tempos em que vivemos, a maioria das pessoas improvisadoras com quem trabalhei eram homens. De repente, explorar como nossa energia funciona, como construímos essas outras personagens aos quais raramente temos acesso - isso é o que parece tão novo para mim.
Conseguir isso não por meio de caricatura, mas por meio de uma energia que geralmente acontece no sentido oposto, certo? É um homem usando certas ferramentas para interpretar personagens femininas, e agora estamos aplicando essas ferramentas com a consciência de interpretá-las em alinhamento com o que o gênero da peça exige.
STATUS: Há algo definido nesse sentido? Por exemplo, se vocês se deparam com uma peça com a qual não estão familiarizadas e a maioria das personagens é do sexo masculino ou de um gênero ou idade muito diferente das suas, vocês tem um código ou diretrizes pré-estabelecidas para interpretação ou vocês se adaptam, ajustam e fazem ajustes? Como vocês lidam com essas possíveis diferenças?
ROMINA: Acho que tem sido muito livre. Não impusemos restrições durante os ensaios ou no processo exploratório. Juntas, estamos descobrindo o que o formato pode suportar e o que não pode. Percebemos que estamos mais interessadas em retratar homens, crianças, etc., a partir de um ponto muito mais próximo de nós mesmas, em vez de recorrer à caricatura. Também acho que, de forma um tanto inconsciente, temos sido seletivas. Enquanto brincamos com o material, talvez nos envolvamos apenas com duas personagens, ou talvez escolhamos uma cena específica e depois sigamos em outra direção. Nossa intuição e a inteligência que desenvolvemos como improvisadoras nos guiam nessas decisões. Não há uma regra rígida sobre o que podemos ou não podemos fazer.
ANGÉLICA: É também por isso que se chama “Variaciones sobre…”, porque nosso interesse não é contar a peça em si, mas descobrir todas as faíscas que uma peça pode acender. Portanto, quando não sabemos, treinamos praticando com textos conhecidos ou encontrados aleatoriamente. Há alguns meses, ensaiamos com uma peça de Beckett que não conhecíamos. Abrimos o livro e lemos algo como: "Essa peça é pouco conhecida porque Beckett não queria que fosse publicada, mas depois de sua morte, ela foi". Isso deu início à nossa improvisação. Improvisamos com base na resistência de Beckett em tornar a peça conhecida, incorporando fragmentos da peça que lemos e criando histórias paralelas. Trata-se realmente de deixar o material gerar ideias.
STATUS: É um guia e uma inspiração. E com relação à dramaturgia - por exemplo, você mencionou Beckett anteriormente - imagino que, ao começar a ler ou brincar com uma peça, você começa a descobrir o estilo poético da autoria ao longo do tempo. Você dá muita ênfase a isso, ou nem tanto?
ANGÉLICA: É que não tem como não acontecer, certo? Olhamos para “Senhorita Júlia” [August Strindberg] e, quando começamos a ler as indicações de palco e a maneira como foi escrita, há algo que nos empurra para aquele universo. Então, habitar esse mesmo universo também pode nos tirar dali. Você pode pensar: por que as peças foram escritas dessa forma? Se você fosse escrever uma peça com base nesta entrevista que estamos tendo, como descreveríamos as direções de palco? Portanto, é inevitável que haja gatilhos que, por sua vez, começam a se entrelaçar e, de repente, criam um ritmo diferente, não acha?
STATUS: Portanto, há permissão, como já vi em uma apresentação, para metateatro ou metacomentário sobre a peça em si.
ROMINA: Sim, sempre. E também brincamos com esse conceito. Se for uma peça escrita no século XIX, decidimos se queremos nos comprometer totalmente com essa época ou se queremos ir e voltar. Além disso, se for uma peça que não conhecemos, pensei muito sobre isso - ler a sinopse e sentir que o material pode não ressoar diretamente em nós. Então, abordando-o a partir dessa perspectiva: o que de fato nos toca nesse material, para que possamos expressar o que queremos dizer sobre ele? Porque, em última análise, nosso objetivo é dizer algo sobre cada peça.
STATUS: Voltando ao tópico da turnê, vocês realizarão workshops, e esses workshops estarão ligados a essa produção ou oferecerão workshops não relacionados a ela?
ANGÉLICA: Estarão de fato ligados à produção, porque a exploração em que estamos envolvidas atualmente é sobre enfrentar o jogo da improvisação com o que a outra pessoa está lhe dando e com a verdade do que está acontecendo no momento. Acredito que isso vai além de fornecer ferramentas de improvisação; trata-se também de oferecer ferramentas para funcionar dentro da ficção. Keith Johnstone disse certa vez: "Se a outra pessoa não estiver se divertindo, será que o que está acontecendo vale a pena?" Isso se aplica à ficção e à vida, mas o que significa para a outra pessoa se divertir? Significa estar presente para a outra pessoa, além de minhas preferências pessoais e, para isso, ter ferramentas que me permitam estar presente.
Estamos nos movendo em direção a um caminho de escuta genuína - evitando o impulso de agir por causa da ansiedade de não agir - e permitindo que algo simples se desenvolva em vez de sempre querer começar com algo grande. Esses são os conceitos sobre os quais sempre ouvimos falar, mas à medida que eles começam a habitar em você como pessoa improvisadora, você também pode encontrar ferramentas que pode compartilhar com outras improvisadoras.
ROMINA: Essas não são necessariamente ferramentas de atuação. O conceito de verdade é abordado, o que também pode estar relacionado a ferramentas de atuação. Muitas pessoas improvisadoras não são necessariamente atores ou atrizes e buscam ferramentas de atuação no palco. Embora eu não esteja dizendo que essas ferramentas não sejam desse tipo, acredito que o foco aqui é simplesmente a honestidade dessa verdade presente, que é, em última análise, a base da improv - estar presente.
STATUS: Última pergunta, especificamente para Angélica, cujo perfil nos últimos anos tem sido notavelmente marcado por seu trabalho de direção. Em seu processo de dirigir peças que não são improvisadas e trabalhar com muitos grupos de pessoas que não têm treinamento em improvisação, mas que têm uma sólida formação clássica, a improvisação é uma ferramenta para você, um desafio, uma tentação? Como você lida com isso?
ANGÉLICA: Quanto mais eu dirijo, mais eu uso a improv. Desde o aquecimento... até ajudar o elenco a entender o jogo e suas regras. Se não forem feitas perguntas, a ficção não ganhará vida. Se simplesmente entrarem em cena sem se perguntar: "Por que estou aqui?", a ficção não será criada.
STATUS: E quanto a Romina, você muda conscientemente de marcha entre a atuação no teatro com roteiro e a improvisação? Por exemplo, quando está preparando personagens antes da estreia de uma peça, você se sente como se fosse a mesma improvisadora ou é uma experiência totalmente diferente, como tocar um instrumento musical diferente? Como você administra isso?
ROMINA: Em meus processos, sempre uso muita improvisação. Geralmente, nas produções para as quais sou convidada, há uma contribuição significativa de atores e atrizes. Dentro dessa liberdade de explorar a personagem ou as relações com colegas atuantes, eu me baseio muito na improv. Mais tarde, quando as diretrizes entram em ação, começo a restringir as opções, por assim dizer. No entanto, para descobrir a personagem ou a conexão, eu utilizo amplamente a improv.
Pode parecer que estou em um modo diferente porque não se trata do resultado final, certo? Mas é definitivamente uma ferramenta que utilizo em qualquer processo artístico.
STATUS: Muito obrigado. Gostaria de fazer uma rodada de pingue-pongue. Vamos começar com Romina Coccio - vou lhe fazer 5 perguntas.
Se a improvisação fosse um alfajor, que tipo de alfajor seria?
Romina: Seria um de amido de milho, porque ele se desfaz muito rapidamente.
Se você tivesse US$ 10 milhões para produzir um espetáculo de improvisação, o que criaria?
Romina: Eu criaria cenários espetaculares para apresentar “Parasite” [espetáculo com Omar Galván].
Se você tivesse que dar um workshop de improvisação para um ator ou atriz de Hollywood, quem seria?
Romina: Meryl Streep. Eu gostaria de fazer experiências com alguém muito experiente, cujo trabalho eu admiro e que seja mais velha.
Se você tivesse que fazer um workshop com alguém de qualquer lugar do mundo, em qualquer disciplina, quem seria e sobre o que seria?
Romina: Eu faria um workshop de culinária com um chef oriental.
A apresentação ideal de “Variaciones sobre…”: Em que teatro, em que local? Como você imagina?
Romina: Eu a imagino em um teatro em Buenos Aires, em uma das salas do Teatro San Martín, por exemplo.
STATUS: Agora, cinco perguntas para a Angélica.
Se seu cachorro fosse um improvisador, que tipo de improvisador ele seria?
Angélica: Seria o tipo de improvisador que sempre tem algo para você, sempre dando presentes incríveis.
Você precisa reunir um elenco de cinco pessoas internacionais, sem repetir países, sem repetir nacionalidades. Excluindo Romina e eu (já que obviamente estaríamos incluídes), quem você escolheria?
Angélica: Com vocês já incluídes, eu começaria com a Espanha - Ignacio López. Em seguida, Brasil - Rhena de Faria. Depois, Argentina - Charo López, obviamente. México - Juan Carlos García. Por fim, Colômbia - Daniel Orrantia ou Pipe Ortiz.
Uma peça que você gostaria de dirigir?
Angélica: “A vida é sonho”, do Sr. Pedro Calderón de la Barca.
Você encenaria uma peça com um elenco formado apenas por pessoas improvisadoras? Se sim, qual peça?
Angélica: Eu encenaria “A peça que dá errado” somente com pessoas improvisadoras ou algo como “Tio Vânia” para explorar o absurdo da vida.
Espaço teatral e cenário ideais para a encenação de “Variaciones sobre...?”
Angélica: Eu adoraria que fosse sempre em um teatro de caixa preta. Que o “Variaciones” pudesse ser apresentado em caixas-pretas em todo o mundo. Eu realmente gosto desses espaços.
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GENÉTICA
SCENES FROM A MARRIAGE
por Rozana Radu
seção coordenada por Luana Proença (luanamproenca@gmail.com)
Algumas das práticas pedagógicas comuns na América Latina que sempre me inspiraram em Teatro são as chamadas Desmontagens Cênicas ou os estudos da Genética Teatral. Uma abertura dos processos de criações onde eles são “desfeitos” parte a parte para que possamos ver como se deu a junção daquela obra. Assim, todos os meses eu vou dar espaço para grupos e artistas abrirem suas criações para uma partilha inspiradora. Se você quiser partilhar sobre o seu processo, entre em contato comigo, Luana Proença.
Amor, amor, amor... Nós adoramos impro... Nós adoramos amor... Nós adoramos aprender sobre impro e sua genética. E Rozana Radu, de Bruxelas, este mês compartilha seu amor pelA Impro e pelo amor falando sobre seu espetáculo “Scenes from a Marriage” (“Cenas de Um Casamento”).
***
Cenas de um casamento:
Uma anatomia do amor
Durante toda a minha vida artística, estive em uma busca constante pela melhor maneira de representar o amor no palco. Provavelmente porque o considero o sentimento mais importante do mundo, aquele que impulsiona todas as nossas ações e as torna mais fortes e viscerais. E esse formato marca a primeira vez que o apresento em um contexto de improv.
Inspirada no drama icônico “Cenas de Um Casamento” de Ingmar Bergman e no espetacular remake da HBO de 2021, essa narrativa improvisada de formato longo pretende dissecar a própria essência dos relacionamentos, de todos os ângulos possíveis.
Os filmes abordam as dificuldades e as belezas das parcerias de maneira única, direta e delicada, convidando o público a testemunhar um diálogo muito íntimo entre as partes envolvidas. Trabalhei minuciosamente com meu elenco para garantir que retratássemos cada detalhe, cada luta, cada momento feliz etc., estando no presente e desenvolvendo fortes conexões entre nós para uma melhor interpretação do enredo.
Nossa versão de “Cenas de Um Casamento” pretende ser ousada, poderosa, desconfortável, sincera e surpreendente. E, em meio à quebra do poderoso arquétipo de relacionamento que é o casamento, nosso público pode até ver seu próprio reflexo em nossa paisagem emocional improvisada.
Quando decidi trazê-lo de volta ao palco para sua segunda temporada, precisei justificar minha escolha, não apenas em termos de elenco (novas pessoas), mas também artisticamente, de modo que adaptei a narrativa aos tempos em que vivemos, retratando questões como casamentos abertos, poliamor, casais de três pessoas etc. Senti que essa é uma etapa vital no desenvolvimento desse formato e que o levará ao próximo nível. E foi o que aconteceu.
Para entender melhor isso, esta é a descrição do formato:
Ele tem 3 beats!
BEAT 1 (20 a 25 minutos)
Os casais estão no palco, sentados em cadeiras, e respondem a perguntas de uma entrevista sobre seu relacionamento. O primeiro casal tem seu momento, depois o segundo, depois o terceiro. NÃO entrelaçamos as respostas, não ouvimos as perguntas (podem repetir algumas delas para o público, se quiserem).
Depois que cada casal responde a algumas perguntas (dependendo do horário e do humor), há um momento em que eles DEVEM repetir a pergunta da pessoa a entrevistar (por exemplo: “Descreva uma manhã normal de sábado”, “Como são suas noites diárias”, “O que vocês normalmente fazem em uma tarde chuvosa”) e, em seguida, a música começa e vemos o casal vivendo aquele momento, silenciosamente, por 2 ou 3 minutos (se levantam das cadeiras e usam todo o palco à sua frente). Quando o primeiro casal volta para trás, vemos o(s) outro(s) casal(is) respondendo às suas próprias perguntas e, no final, respondem EXATAMENTE À ÚLTIMA pergunta e fazem sua própria versão dela (com uma música diferente, ainda em silêncio).
Esse ritmo termina quando o último casal termina seu momento e volta para suas cadeiras.
BEAT 2 (20 minutos)
Todos os casais se encontram em um ambiente semelhante a uma festa e interagem (cenas divididas, entrada e saída, varanda etc.). Nesse encontro, acontecerá algo (falta de comunicação, ciúme, jogo de poder, traição etc.) que afetará pelo menos um dos casais.
BEAT 3 (20 minutos) - intervalo de tempo, cada casal decide a quantidade :)
Os casais estão no palco e respondem novamente às perguntas. Pudemos ver que eles são diferentes do beat 1.
O primeiro casal termina suas perguntas, depois o segundo, depois o terceiro. Quando o último casal conclui, a música começa. Todos os casais se levantam das cadeiras e começam a se movimentar em seu espaço, naturalmente e ao mesmo tempo.
O espetáculo termina com a música se apagando simultaneamente com as luzes!
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O espetáculo foi apresentado com 2 ou 3 casais, respectivamente, e a única sugestão que recebi do público foi o número de anos de casamento de cada casal.
O que atrai o público a assisti-lo novamente e o que me levou a trabalhar com esse tipo específico de improvisação é a maneira simples e verdadeira de ver a construção de cada relação, como se você estivesse participando do ensaio e da apresentação ao mesmo tempo. Como atuante, é muito especial ter todo esse processo na frente da plateia, cru e maltrapilho (às vezes).
O principal aspecto a que precisamos prestar atenção é o ritmo. Por ter uma estrutura estática, devemos garantir uma mudança de ritmo suficiente, variedade na representação das emoções, para que o público permaneça ligado durante toda a apresentação.
“Scenes from a Marriage” (“Cenas de Um Casamento”)
Theatre l'Improviste Brussels (2022-2023, 2025)
dirigido por Rozana Radu
Elenco: Kelly Agathos, Peggy Pexy Green, Michelle Scott, Rozana Radu, Gilles Delvaulx, Yiannis Ampazis, Kyle Gibson, Ben Verhoeven
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IMPROLECTORA
IMPROV PARA CASAIS
Pamela Iturra (impro.lectora@gmail.com)
O teatro aplicado é conhecido como o amplo conjunto de práticas e processos criativos em que o teatro é usado a serviço de pessoas e comunidades. A improvisação teatral também tem um aspecto aplicado que explora uma gama de usos interdisciplinares: improv para o bem-estar humano, improv para a comunicação eficaz, improv para a convivência em grupo, entre outros. Este livro é um exemplo muito original das infinitas possibilidades de aplicação da improv: melhorar os relacionamentos de casal.
O LIVRO
“Improv for Couples: Fun Games for You and Your Partner” (“Improvisação para casais: Jogos divertidos para você e sua pessoa parceira”), de Greg Tavares e Amber Nash, foi publicado em fevereiro de 2025. O livro tem 27 capítulos, três dos quais são introdutórios, dois apresentam as conclusões e os vinte e dois restantes apresentam jogos de improv que podem ser jogados em casal - uma coleção fantástica! Ele começa apresentando ideias-chave sobre improv, brincadeiras e relacionamentos, enfatizando a importância de uma atitude lúdica, do consentimento e da conexão emocional. Cada jogo inclui contextualização, instruções passo a passo e dicas e sugestões para o desenvolvimento. Os jogos seguem uma ordem lógica, e é recomendável jogá-los conforme aparecem no texto. O objetivo do livro é acompanhar qualquer casal (com ou sem experiência em improv) na redescoberta da alegria de jogar, fortalecendo seu vínculo e reacendendo seu relacionamento. É um manual dinâmico e acessível para qualquer pessoa leitora, escrito com simplicidade e um toque encantador de humor e camaradagem.
AS AUTORIAS
Greg Tavares e Amber Nash são pessoas improvisadoras e instrutoras de improv nos Estados Unidos. Amber Nash, além de improvisadora, é psicóloga. Ela é diretora de educação do Teatro de Improvisação Dad's Garage. Ela viajou pelo mundo ensinando improv e se apresentando ao lado do marido, o que a levou a desenvolver esse projeto. Greg é ator, escritor e diretor de teatro. Ele é o diretor da escola Theatre 99 e autor do livro “Improv for Everyone” (“Improv para Todo Mundo”). Durante a pandemia, ele começou a oferecer aulas de improv via Zoom para casais, o que inspirou seu envolvimento neste livro.
A EXPERIÊNCIA
É emocionante imaginar um relacionamento romântico repleto de alegria e diversão, onde a brincadeira se torna uma atividade diária, a improv serve como um estilo de vida, uma linguagem compartilhada e uma fonte de força para enfrentar os desafios da vida. Nos capítulos introdutórios do livro, as suas autorias compartilham sua perspectiva sobre a valiosa contribuição que os jogos de improv podem dar a um casal e, além dos jogos, a filosofia da improv: manter uma atitude lúdica, flexível, despreocupada, de espírito livre, criativa, desinibida e espontânea. Enfatizam a importância do humor, da escuta e da aceitação para criar cumplicidade e fortalecer os relacionamentos.
Em seguida, o livro apresenta uma série de jogos escritos de forma tão envolvente que você sente a inspiração para começar a jogar: "Making Up Words" (“Inventando Palavras”), "Silly Voice" (“Voz Boba”), "List Five Things" (“Liste cinco coisas”), "One Million Questions" (“Um milhão de perguntas”), "Finding Your Game" (“Encontrando seu jogo”), "Catfish Daddy And The Sexy Pirate" (Papai peixe-gato e a pessoa pirata sexy) e muitos outros. Ao longo do livro, as autorias compartilham suas experiências pessoais como artistas, educadoros e com seus respectivos parceiros no reino lúdico, fazendo você acreditar que brincar, divertir-se e improvisar em casal não é apenas possível, mas absolutamente essencial.
DÊ UMA OLHADA
1. Ou é divertido ou está acabado. Só jogue quando vocês duas estiverem na vibe..
2. Deixe-os querendo mais. Lembre-se de parar de jogar antes de perder o interesse. Se você terminar com uma nota alta (quando estiver se divertindo muito em vez de estar entediado com o jogo), você ficará em ansiedade para jogar novamente na próxima vez.
3. O riso é o único critério de avaliação. A única medida de sucesso que importa é o prazer que você e sua parceria têm com os jogos. Dê alegria e receba alegria quando estiver jogando. Deixe seu espírito competitivo no banco (boom, metáfora esportiva!). Se você jogar por diversão, nunca perderá.
4. Diga sim para dizer sim. Fique com abertura ao que sua parceria está lhe oferecendo e siga em frente. Dizer sim é a forma de nos mantermos em abertura. Sua parceria está assumindo o risco de brincar com você, portanto, você pode assumir o risco de dizer sim.
5. Os erros são recompensados. Lembre-se de que toda vez que você comete um "erro", você pode ter sua coisa favorita? Isso é verdade. Quando você comete erros na improv, você é recompensado. Dessa forma, você corre mais riscos, faz escolhas mais ousadas e se diverte mais.
6. O jogo é privado. As experiências que vocês têm juntos quando brincam são íntimas e precisam ser respeitadas. Confie que você pode ser bobo com sua parceira de uma forma que ninguém mais no mundo precisa ver ou ouvir. O que acontece na brincadeira permanece na brincadeira.

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